A troca de ameaças entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ex-presidente russo Dmitri Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, reacendeu o temor global sobre a existência da "Mão Morta", um sistema nuclear semiautomático de retaliação da era soviética, também conhecido como Perimetr.
O embate começou após Trump, no dia 28 de julho, impor um ultimato público à Rússia, exigindo o fim da guerra na Ucrânia em até dez dias, sob pena de endurecimento das sanções. Medvedev respondeu no mesmo dia, dizendo que os EUA estavam jogando “o jogo do ultimato” e que isso representava “um passo em direção à guerra”. O clima esquentou ainda mais na última quarta-feira (30/7), quando Trump chamou o russo de “fracassado”. Poucas horas depois, Medvedev voltou a responder, desta vez com uma ameaça direta: “Trump deveria se lembrar de como a lendária 'Mão Morta' pode ser perigosa”.
A referência levou Trump a anunciar, na sexta-feira (1º/8), a movimentação de submarinos nucleares norte-americanos, em um sinal de alerta para a escalada da crise.
Desenvolvido no auge da Guerra Fria, o Perimetr foi criado pela União Soviética com o objetivo de garantir uma retaliação nuclear mesmo em caso de destruição total da cadeia de comando do país. Segundo informações do Centro para Análises Navais (CNA), o sistema foi ativado em 1986 e é projetado para detectar sinais de um ataque nuclear — como explosões e perda de comunicação — por meio de sensores instalados em centros estratégicos. Caso todas as tentativas de comunicação com a liderança russa falhem, o sistema pode autorizar automaticamente o lançamento de mísseis nucleares, que, por sua vez, ativam outros lançadores espalhados pelo território russo.
A existência do sistema foi revelada ao público em 1993 pelo jornal The New York Times, que o classificou como uma “máquina do juízo final”. Já em 2009, o ex-coronel soviético Valery Yarynich, que participou do projeto, afirmou que o objetivo era justamente tirar a decisão de ataque exclusivamente das mãos de líderes políticos e militares, garantindo resposta mesmo após um ataque devastador.
Embora oficialmente a Rússia nunca tenha confirmado se o sistema continua em funcionamento, especialistas e documentos de inteligência dos EUA sugerem que ele permanece ativo e pode ter sido aprimorado nas últimas décadas.
A recente ameaça de Medvedev sobre a “Mão Morta” reacende os temores de uma nova escalada militar entre potências nucleares. A tensão aumenta num momento em que a guerra na Ucrânia já ultrapassa dois anos e as vias diplomáticas parecem cada vez mais fragilizadas.