O mundo acompanha os momentos de tensão e conflitos vividos no Nepal desde a derrubada do primeiro-ministro K.P. Sharma Oli. A queda do político, entretanto, foi ocasionada por dois pilares do mundo: a geração Z e as redes sociais.
Entenda:
Foram os jovens nepaleses os responsáveis pelo momento de tensão que ocasionou a derrubada de K.P Sharma Oli. As manifestações que já deixaram 22 mortos desde a segunda-feira (08/09) foram desencadeadas pela proibição governamental do uso de importantes redes sociais, usadas para a comunicação e trabalho no país.
A proibição das redes sociais impactou severamente o cotidiano dos nepaleses, que utilizam essas plataformas para manter contato com familiares no exterior, receber dinheiro e administrar negócios. Aproximadamente dois milhões de trabalhadores nepaleses residem fora do país, enviando recursos financeiros para suas famílias, conforme reportagem do Estadão sobre a crise política que se intensifica na região.
Mesmo após o governo revogar a medida restritiva, os protestos continuaram. Manifestantes incendiaram escritórios governamentais e residências de políticos, evidenciando que a insatisfação com a censura digital continuava.
As manifestações ocorreram entre segunda e terça-feira desta semana, com maior intensidade no segundo dia, quando casas de líderes políticos foram atacadas e incendiadas na capital Katmandu.
Os jovens manifestantes protestam não apenas contra a censura digital, mas também contra problemas estruturais como desemprego, desigualdade e corrupção. Eles expressam frustração com a elite política, incluindo figuras como Oli, Pushpa Kamal Dahal e Sher Bahadur Deuba, que se alternaram no poder desde 2015.
Katmandu, capital do Nepal, país localizado na Cordilheira do Himalaia entre a Índia e a China, concentra grande parte dos protestos. Com população de 30 milhões de habitantes, o Nepal atrai muitos jovens para sua capital em busca de educação superior e oportunidades de trabalho, onde enfrentam altos custos de vida e inflação.
Dados do Escritório Nacional de Estatísticas do Nepal revelam que a taxa de desemprego atingiu 12,6% em 2024, conforme a Pesquisa de Padrão de Vida. No mesmo período, mais de 741 mil nepaleses deixaram o país em busca de trabalho, principalmente nos setores de construção civil e agricultura.
As remessas enviadas por trabalhadores nepaleses no exterior somaram US$ 11 bilhões em 2024, representando mais de 26% da economia nacional. Uma investigação parlamentar identificou o desvio de pelo menos US$ 71 milhões na construção de um aeroporto internacional em Pokhara, no Nepal, com empréstimos do Banco de Exportação e Importação da China que desapareceram.
Desde a implementação da nova Constituição em 2015, três líderes se revezaram no comando do governo nepalês: Oli, Pushpa Kamal Dahal e Deuba. A corrupção persiste como problema crônico, com o Nepal figurando entre os países mais corruptos da Ásia, segundo a Transparência Internacional.
Para muitos jovens manifestantes, o sistema de alternância no poder entre os mesmos líderes políticos, com mandatos curtos de apenas um ou dois anos para cada primeiro-ministro, tornou-se fonte de irritação.
Os manifestantes apontam a corrupção como um dos principais problemas do país, destacando que uma pequena elite acumula propriedades e riquezas enquanto a maioria da população enfrenta dificuldades econômicas. Eles expressam amargura ao compartilhar imagens do filho e da nora do ex-primeiro-ministro Deuba, bem como dos filhos de outros políticos, exibindo estilos de vida luxuosos.
Em outro caso revelado, líderes nepaleses foram flagrados coletando dinheiro de jovens que buscavam emprego nos Estados Unidos sob falso pretexto de status de refugiado, usando documentos falsificados que atribuíam aos nepaleses desempregados a identidade de butaneses deslocados.