Katmandu amanheceu deserta nesta quarta-feira (10/9), após dois dias de intensas manifestações que levaram à queda do primeiro-ministro K. P. Sharma Oli. A situação atual, com ninguém mais do que militares e poucos comerciantes nas ruas, contrasta com o que foi o dia de ontem na capital do Nepal, quando manifestantes atearam fogo no Parlamento e em casas de membros do governo contra uma proibição de redes sociais - mesmo após a renúncia do então líder político do país.

Nesta manhã - ainda madrugada no Brasil -, soldados guardam o que restou do prédio do Parlamento do Nepal, enquanto a capital vive um novo toque de recolher, previsto para durar ao menos até esta quinta-feira (11/9). A onda de manifestações resultou, até terça, em 22 mortes e mais de 200 feridos em confrontos policiais.

Veículos queimados e objetos de metal espalhados pelas ruas formavam o cenário na região ao redor do Parlamento, segundo registros da agência Reuters. Os Bombeiros ainda trabalhavam para eliminar focos de incêndio no interior do prédio. O cenário de terra arrasada flerta com a situação política do país, cujos rumos começam a ser definidos nas próximas horas.

A imprensa local informou que preparativos estão sendo feitos para uma reunião entre manifestantes e autoridades. Há, contudo, poucos detalhes sobre quando e como esse encontro deve acontecer.

A atual crise teve início com a divulgação de vídeos virais nas redes sociais contra os "nepo babies" da elite do país, filhos de políticos que ostentam vida luxuosa na internet e cujos pais são acusados de corrupção.

O governo de Oli respondeu às críticas proibindo 26 redes sociais de operar no Nepal, incluindo Facebook e YouTube.  A decisão serviu de estopim para as manifestações, e nem a renúncia de Oli foi o bastante para acalmar os manifestantes, que agora fazem novas exigências - como o fim da corrupção e mais empregos para jovens.

O ex-juiz da Suprema Corte Balaram K.C. pediu aos manifestantes para que formassem uma equipe de negociação, com as forças armadas ajudando a manter a ordem durante as negociações. Segundo ele, o mais provável é que novas eleições sejam convocadas. O gabinete de segurança da Índia também se reuniu nesta terça para discutir a situação no país vizinho.

"A estabilidade, a paz e a prosperidade do Nepal são de extrema importância", disse o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em uma publicação no X. "Apelo humildemente a todos os meus irmãos e irmãs no Nepal para que mantenham a paz e a ordem."

Durante anos, a falta de empregos no Nepal levou milhões de pessoas a procurar trabalho em lugares como Malásia, Oriente Médio e Coreia do Sul, principalmente em canteiros de obras, para poder enviar dinheiro para casa.

Encravado entre a Índia e a China, o Nepal tem lutado contra a instabilidade política e econômica desde que os protestos levaram à abolição de sua monarquia em 2008.