O novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou nesta terça-feira, em seu discurso de posse, que deseja fortalecer o Mercosul e construir uma relação com o Brasil apesar das diferenças ideológicas com o presidente Jair Bolsonaro.

“Vamos fortalecer o Mercosul e a integração regional em continuidade ao processo iniciado em 1983 e potencializado em 2003”, disse Fernández no Congresso argentino. 

O líder peronista também prometeu uma diplomacia comercial dinâmica, inovadora e plural. “A Argentina é uma terra de amizades e relações maduras com os países”, declarou.

Sobre o Brasil, vizinho e principal parceiro comercial, Fernández prometeu uma “agenda ambiciosa” na área da tecnologia, da produção e da estratégia: “(Essas áreas) estarão respaldadas pela histórica irmandade de nossos povos e que vai além de qualquer diferença pessoal dos que governam e da conjuntura”, afirmou.

“Vamos honrar e avançar juntos na construção de um futuro de progresso compartilhado”, completou o presidente argentino, ao dizer que seu governo “apostará em uma América Latina unida para se inserir com êxito e com dignidade no mundo”.

Desafios econômicos

Fernández assumiu a presidência da do país com a missão de acertar o rumo de uma economia em crise, o que o obrigará a encontrar um equilíbrio delicado para lidar com grandes exigências tanto da população como dos investidores.

Em sua posse, Fernández se comprometeu a reduzir a pobreza na Argentina e assegurou que vai pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) havendo crescimento. 

“É impossível pagar a dívida externa se não há crescimento. Queremos ter uma boa relação com o FMI, mas, sem crescimento, não podemos pagar”, afirmou.

Em troca de um severo ajuste fiscal, o FMI outorgou em 2018 um crédito no valor de US$ 57 bilhões à Argentina, dos quais o país recebeu até agora US$ 44 bilhões. A dívida total beira os US$ 315 bilhões, quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB).

A titular do FMI, Kristalina Georgieva, saudou no Twitter a declaração do presidente: “Compartilhamos plenamente seus objetivos de perseguir políticas para reduzir a pobreza e acompanhar o crescimento sustentável. O FMI permanece comprometido em assistir seu governo nessa tarefa”.

À frente da reestruturação da dívida está Martin Guzmán, novo ministro das Finanças, empossado ontem junto com o restante do gabinete.

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Fernández, um peronista de centro-esquerda, alertou ainda que o governo em fim de mandato do liberal Mauricio Macri “deixou a nação em uma situação de default virtual”. 

Bolsonaro na 'torcida'

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira que espera que a Argentina “dê certo” com seu novo presidente, Alberto Fernández, com quem mantém forte disputa ideológica. “Estou torcendo para a Argentina dar certo. Se bem que os números dizem que vão ter mais dificuldade do que nós”, afirmou. 

O presidente disse ainda que o partido do ex-presidente Mauricio Macri, a quem ele apoiou na campanha eleitoral, conseguiu uma “grande bancada” no Congresso e, portanto, o governo de centro-esquerda de Fernández “terá problemas para impor sua política”.

Bolsonaro não parabenizou Fernández após sua vitória eleitoral em outubro e alertou desde o início que não compareceria à sua posse, e que o Brasil enviaria apenas um ministro ou o embaixador em Buenos Aires.

No entanto, no último minuto, ele decidiu enviar o vice-presidente Hamilton Mourão “para avaliar o relacionamento com a Argentina, especialmente em aspectos comerciais”, disse o porta-voz presidencial na segunda-feira.