Tráfico internacional

Ex-líder das Farc, Jesús Santrich, falta a audiência na Colômbia

Ele foi visto pela última vez em 30 de junho, no Departamento de Cesar, perto da fronteira da Venezuela


Publicado em 09 de julho de 2019 | 18:06
 
 
 
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O ex-combatente das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) Jesús Santrich, 52, não compareceu nesta terça-feira (9) ao tribunal da Corte Suprema a uma audiência para responder a acusações de que teria enviado drogas para os EUA. 
Ele foi visto pela última vez em 30 de junho, no Departamento de Cesar, perto da fronteira da Venezuela, e desde então seu paradeiro é desconhecido.

Investigado por um suposto envio de dez toneladas de cocaína aos EUA, Santrich pode ter se juntado ao grupo de dissidentes das Farc que hoje ocupa acampamentos na Venezuela, com a proteção do ditador Nicolás Maduro.

A atitude de Santrich, um dos líderes da negociação de paz com o Estado, e que por isso ganhou um posto de deputado no Congresso colombiano, revoltou os defensores do acordo. Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá e ex-candidato à Presidência, disse que seus atos "abalam a credibilidade da paz estabelecida com a guerrilha". 

A chefia da Farc (Força Alternativa Revolucionária do Comum), hoje um partido político, também condenou seu comportamento. 
"A Farc não está de acordo com isso, qualquer um que abale nossa disposição de paz já não pode nem usar o nome do grupo", disse o hoje senador e ex-líder guerrilheiro Carlos Antonio Lozada.
No horário em que Santrich deveria ter comparecido à audiência, seus advogados estiveram no tribunal e explicaram que não podem dizer onde seu cliente está, porque ele afirma que sua segurança física está em risco. 

Os defensores alegam que a proteção prometida pelo acordo de paz a ex-guerrilheiros não estava valendo para Santrich porque o presidente colombiano, Iván Duque, teria "colocado sua cabeça a prêmio" ao criticá-lo publicamente.

O descumprimento do pedido para comparecer à audiência pode desencadear uma ordem de captura. O procurador Fernando Carrillo afirmou que já solicitou a prisão de Santrich, mas que só juízes são responsáveis por decidir se a captura será feita. 
Duque alertou que Santrich não poderia mais receber o tratamento acertado com ex-guerrilheiros pois, segundo ele, havia cometido o delito de narcotráfico depois que o acordo de paz foi aprovado, o que o levaria a ser julgado pela Justiça comum.

Santrich estava preso desde abril de 2018, mas foi solto em maio deste ano -o tribunal especial para a paz (JEP) concluiu não ter evidências suficientes de que o envio do carregamento tenha ocorrido antes ou depois de dezembro de 2016, data de assinatura do pacto. 

Se tiver ocorrido antes, ele poderia ser anistiado pelo tribunal. 
Duque e seu partido, o Centro Democrático, querem reformar o estatuto da JEP para que narcotráfico saia da lista dos delitos anistiáveis. 

Essa posição já foi derrotada uma vez no Congresso. A atitude de Santrich, porém, dá força aos críticos do acordo. Caso Santrich tenha de fato decidido deixar o acordo de paz, ele não será o primeiro entre ex-lideranças das Farc. 

Há alguns meses, Iván Márquez, que também tinha participado das negociações pelo pacto, em Cuba, desapareceu. O líder máximo da Farc, o partido político, Rodrigo "Timotchenko" Londoño, diz que a sigla está comprometida com o acordo e que as atitudes de Márquez e de Santrich não "diminuem nossa vontade de ter paz".

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