A morte de Hugo Chávez levanta questionamentos quanto à manutenção das relações comerciais entre o Brasil e a Venezuela. A parceria entre os dois países sul-americanos é uma construção histórica, mas foi intensificada na era Chávez. Hoje, o Brasil é o terceiro maior fornecedor da Venezuela, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.

O pesquisador e professor Thiago Gehre, da Universidade Federal de Roraima, explica que, graças à grande quantidade de petróleo em seu território, a Venezuela possui uma alta capacidade de compra em liquidez. E é, também, uma economia bastante dependente de outros mercados. Quase 90% dos produtos são importados. "O que o Brasil fez foi aproveitar essa tendência e se aproximar", afirma.

O Brasil exporta em grande quantidade para os venezuelanos e importa poucos produtos do país - a maioria, derivados do petróleo. "O Brasil tem um superávit nessa parceria, já que possui uma economia muito mais diversificada", diz Gehre.

Segundo estudo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento (Apex-Brasil) em 2011, o Brasil importou da Venezuela US$ 833 milhões, enquanto as exportações para o mercado venezuelano foram de US$ 3,85 bilhões. "A Venezuela acabou vítima da própria riqueza, importa tudo e não se desenvolve", afirma o cientista político Christian Lohbauer, professor da Universidade São Paulo (USP).

Para o fundador do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Roberto Teixeira da Costa, a morte do líder bolivariano não deve alterar essa relação entre os dois países. "Os investimentos que o Brasil tem feito são compromissos de longo prazo. Não acho que vão ser alterados pela mudança de governo.

Do ponto de vista comercial, durante o período Chávez, a relação foi positiva, porque a Venezuela é um importante parceiro comercial e ocupa um papel extremamente importante", explica.

Segundo Costa, os acordos entre os dois países vêm sendo feitos há um bom tempo. "Por mais de uma vez, estive em reuniões durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, das quais Chávez foi o protagonista e a relação com o governo era muito boa. O Brasil sempre teve uma relação amistosa com a Venezuela, antes mesmo de Chávez".

O que poderia modificar a parceria, segundo Costa, seria uma queda no crescimento da economia venezuelana. Gehre concorda que é difícil pensar em um retrocesso na parceria entre as duas nações. "O mais provável é que tenha uma continuidade e até um crescimento nessa relação. A Venezuela é um ótimo mercado, e já vemos a presença de várias agências brasileiras no país, como o Sebrae e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)", diz.

Para o especialista, mesmo no caso de uma vitória da oposição, nas próximas eleições, o cenário ainda continuaria positivo para o Brasil. "Henrique Capriles, provável candidato, já declarou que, se for eleito, valorizará o desenvolvimento empresarial e fará reformas econômicas. O que melhoraria ainda mais as relações", destaca.