A crise do coronavírus na Europa atingiu o maior patamar de tensão na noite dessa quinta-feira (11), após o presidente norte-americano, Donald Trump, ter anunciado em rede nacional suspensão de todas as viagens vindas do velho mundo para seu país por 30 dias a partir desta sexta-feira (13).
Do outro lado do Atlântico Norte, a mais de 8 mil Km de distância de Belo Horizonte, acumula-se pânico na população, enquanto esvaziam-se ruas e locais turísticos.
No meio do turbilhão que ocorre no continente europeu, quatro mineiras que estão vivendo em diferentes países contam suas experiências a O Tempo.
Apesar das peculiaridades de cada nação – Portugal, Alemanha e Itália – a tônica comum nos depoimentos são o corre-corre nos supermercados em busca de máscaras, papel higiênico, e álcool gel, e o cancelamento de diversas atividades cotidianas.
A estudante de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Elisa Dias, de 22 anos, está no epicentro da crise do coronavírus. Ela chegou a Roma, na Itália, onde morreram mais de 1 mil pessoas em decorrência da contaminação pelo coronavírus.
Ana chegou na cidade no início do mês passado para um intercâmbio na Universidade La Sapienza, que duraria até o próximo 12 de agosto. A estudante relata que serviços não essenciais, como bares e restaurantes, amanheceram fechados nesta quinta-feira.
Contudo, supermercados, farmácias e outros negócios funcionam normalmente, e não há previsão de escassez de produtos por enquanto. Nas ruas, não são vistas aglomerações, e algumas pessoas usam máscaras.
A estudante viajou pela Europa até o última dia 7, quando adoeceu. “Fiquei resfriada, e não saí mais de casa até esta quinta. Minhas colegas foram ao supermercado, e não estão deixando muitas pessoas entrarem ao mesmo tempo, mas não há falta de produtos”, diz.
As aulas presenciais na universidade, conta, foram suspensas, mas parte das disciplinas está sendo ofertada online. Devido à preocupação de seus pais, que vivem Marabá, no Pará, Ana Elisa explica que retornará antes do previsto para o Brasil, possivelmente nos próximos dais.
Segundo ela, há overbooking em vários dos voos no aeroporto de Roma. “Ainda estão vendendo passagens, mesmo sem lugares”, afirma.
A arquiteta e mestranda Michelle Achabal, de 24 anos, e o educador físico Gabriel Balsamão, de 24, moram em Porto, em Portugal, desde a metade do ano passado. Em janeiro, eles fizeram uma viagem pela Europa com familiares, quando os primeiros casos de coronavírus foram confirmados no continente.
“Quando voltamos, no início de fevereiro, já víamos pessoas com máscaras nos aeroportos, mas ainda estava tudo tranquilo. Contudo, havia alguns lugares que já não tinham álcool em gel, por exemplo. Na semana passada, os primeiros casos foram confirmados em Portugal, inclusive em Porto, que é uma cidade muito pequena”, conta Michelle.
“As pessoas começaram a se desesperar após o anúncio de pandemia pela OMS. Prateleiras vazias nos supermercados, vários produtos faltando”, afirma ela.
Na Universidade do Porto, onde ambos estudam, as aulas foram suspensas nessa quarta-feira, e eles contam que mal saem de casa nos últimos dias. As exceções ocorrem apenas para compras básicas.
“Com essa quarentena, esperamos que os casos não aumentem muito, mas a tendência infelizmente é aumentar. Muitas pessoas ainda veem essa situação como ‘férias’. Optamos por ficar em casa, é questão de consciência. Não só pelo medo, mas caso aconteça algo conosco, podemos passar a doença para alguma pessoa”, lamenta.
“Ao mesmo tempo que há muita gente desesperada, há gente tranquila demais. Mas é sempre melhor não correr riscos”, conclui.
Por outro lado, Cecília Lima, que trabalha como gerente de marketing digital desde abril de 2019 em Munique, na Alemanha, conta que a situação ainda não está crítica no local.
“Há meia dúzia de ‘gatos pingados’ com máscaras na rua, as pessoas estão saindo menos de casa, mas nada muito fora do normal”, conta. Desde o começo da semana, a diretoria da empresa onde ela trabalha autorizou as pessoas a trabalharem de casa, mas continuou a ir na empresa.
Contudo, nessa quarta-feira, um dos funcionários precisou ser testado por suspeita de contágio com o vírus, e Cecília preferiu trabalhar de casa.
“O clima, por enquanto, ainda está tranquilo, apesar de um pouco apocalíptico. Está faltando papel higiênico no supermercado, sabonete. Estoquei macarrão, tem bastante gente comprando alimentos não perecíveis para guardar em casa. Porém, as pessoas ainda não estão deixando de fazer nada”, relata.
“Está todo mundo muito assustado, cheio de incerteza. Ninguém sabe o que vai acontecer, quanto tempo vai durar, mas estamos bem. Todos estamos usando máscaras, luvas, álcool em gel”, conta Denise Gontijo, de 32 anos, que trabalha em bar em Milão, na Itália. O local fechou logo após o acirramento da crise do coronavírus, e não funciona desde então.
“Até perdemos a conta dos mortos, toda hora os números crescem. Ficamos assustados, passam várias ideias loucas na cabeça. Se haver um jovem italiano, e a gente, lógico que vão escolhê-lo”, lamenta Denise.
Na cidade, segundo ela, todas as companhias aéreas cancelaram os voos para o Brasil. “O problema é a continuidade no vírus, que é muito rápida. Em um dia tinham oito contagiados, no outro tinham 100, no outro 500. No início fazíamos piada, brincávamos, mas agora todos estão preocupados”, conclui.