Ainda no século XIX, um dos maiores brasileiros da história, Joaquim Nabuco, disse que a Abolição ficaria incompleta se os escravos não recebessem terra para trabalhar e seus filhos não recebessem escolas para estudar. Não lhe deram atenção. Cem anos depois, outro dos maiores brasileiros da história, Darcy Ribeiro, disse que, se o Brasil não construísse escolas naquele momento, teria de construir cadeias no futuro.
Junto com o então governador Leonel Brizola, Darcy iniciou a construção de um sistema estadual de escolas públicas com máxima qualidade: os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Os outros governadores não deram continuidade à escola em horário integral. Em 1990, o ex-presidente Collor tentou levar a ideia para o resto do Brasil com os Centros Integrados de Atenção à Criança e ao Adolescente (CIACs), mas, com o impeachment, a federalização foi abortada.
A sociedade brasileira continuou a marcha na pobreza, violência e desigualdade, improvisando soluções parciais para cada problema. Eleitos e eleitores não percebem que o berço dos problemas está na falta de um sistema nacional de educação com máxima qualidade; que o futuro de um povo tem a cara de sua escola no presente (83% dos jovens infratores abandonaram a escola ainda na educação de base). A população vê a ameaça de uma pessoa portando fuzil, mas não vê a esperança em um professor segurando um lápis, um livro, um computador dentro de uma escola.
No momento, quase todo carioca apoia e os demais brasileiros invejam a decisão de federalizar a segurança do Rio de Janeiro, mas nem imaginam que a maior parte se opõe a uma federalização da educação de base. Preferimos continuar nas improvisações seculares: “abolição”, “república”, “desenvolvimento”, “democracia” e “segurança” sem educação. A urgência de cuidar do fuzil nos faz desprezar a importância do lápis, mas guiar-se apenas pelo desespero com a violência não leva à construção da paz.
Em sete meses, teremos eleições, mas nenhum candidato a presidente parece consciente da dimensão do problema, nem interessado em oferecer resposta que não seja a improvisação pontual. Ainda menos enfrentar problemas imediatos, considerando que a solução de longo prazo está na construção do sistema nacional de educação com máxima qualidade.
Querendo apenas agradar ao eleitor assustado com o presente, ficam presos às improvisadas trapalhadas seculares dos discursos demagógicos. Partidos boicotam seus candidatos que defendem a educação como solução porque isso não dá voto. Por mais consistência lógica que tenham, a urgência destrói sólidos argumentos. Quem está com sede não aceita o aviso de que a água do poço em frente está contaminada e devemos cavar novo poço em outro lugar. Poucos votam em quem propõe enfrentar o fuzil também com o lápis.
Por isso, não há ouvidos para a fala de Nabuco, nem de Darcy, nem da ex-senadora Heloísa Helena quando, mais recentemente, disse: “Se adotássemos uma geração de brasileiros, ela depois adotaria o Brasil”.
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