Com base em depoimentos colhidos pela força-tarefa que investiga o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, o Ministério Público do Estado concluiu que o desastre não foi um acidente, mas um crime.
Morreram 200 pessoas e 108 estão desaparecidas. Os depoimentos revelaram que a empresa tinha conhecimento do risco, tanto que tentou atacar o problema instalando drenos para retirar a água da barragem, a fim de evitar a liquefação do material depositado.
Desde 2017 havia indícios de risco na estrutura. Técnicos foram pressionados a atestar a segurança da represa. A técnica utilizada, de barragem a montante, tinha sido colocada sob suspeição várias vezes antes. A última, há pouco mais de três anos, em Mariana.
Na moderna sociedade industrial, não existem acidentes. A mão do homem está presente em todas essas eventualidades a que damos esse nome. Os mais corriqueiros acontecem no tráfego de veículos, em que as responsabilidades são delimitadas com clareza.
O risco de desastre é inerente à atividade humana. Segundo o sociólogo alemão Ulrich Beck, fazemos parte de uma sociedade de risco, na qual este é parte do modelo de desenvolvimento que adotamos. O modo de produção, o estilo de vida implicam o perigo e o dano.
Num desastre das dimensões de Brumadinho, a sociedade reclama culpados, quer que sejam definidas as responsabilidades. Estas estão diluídas entre o governo, a empresa, seus dirigentes e os funcionários diretamente envolvidos com a segurança do trabalho.
Que não foi acidente se sabe desde o início. A sociedade está estruturada de uma forma que produz ameaças que eventualmente saem de controle. Todo esforço deve ser feito no sentido de reduzir danos, abolindo as tecnologias que ofereçam menos segurança.
Por meio dos movimentos sociais, a sociedade precisa participar das decisões que dizem respeito a sua sobrevivência.