Às vésperas de o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, completar um ano, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, ontem, dois suspeitos, apontados como executores do crime.
Os criminosos seriam um sargento reformado da Polícia Militar e um ex-policial militar. O primeiro é considerado um exímio atirador, e o segundo, um experiente motorista. Com o primeiro foi encontrada grande número de armas.
O perfil do sargento também desperta suspeitas da polícia. Ele tem ódio a pessoas de esquerda. Mora numa casa que vale R$ 4 milhões, no mesmo condomínio onde residia o presidente Bolsonaro. E tem histórico criminoso.
Para chegar a eles, a polícia contou com provas testemunhais pouco reveladoras. Em nenhum momento eles saíram do carro usado no crime. Na falta dessas provas, buscou informações de antes ou depois dos assassinatos.
A tecnologia foi fundamental. Gravações de câmeras de vigilância e de telefones foram rebuscadas. O ponto de partida foi a ligação de um celular de dentro de um veículo que depois seria identificado como utilizado no crime.
A identificação dos autores seria a primeira fase das investigações. A segunda, já em curso, vai procurar saber se o crime teve mandantes e quem são. A polícia tem mais de 30 mandados de busca e apreensão para cumprir.
Não é provável que os autores tenham realizado um planejamento tão minucioso do crime só para castigar uma militante de esquerda. Certamente, agiram a mando, como assassinos de aluguel, sendo remunerados por isso.
Este e outros negócios, como o tráfico de armas, podem ser o seu meio de vida. Isso não é estranho ao histórico do crime no Rio. E policiais e ex-policiais aparecem, frequentemente, envolvidos nessas atividades.
Provavelmente, Marielle sabia demais. Mais que em outros Estados, existe no Rio uma relação promíscua entre o crime e o poder. A inteligência policial brilhou, mas a determinação da opinião pública foi decisiva.