Certa vez, escutei uma frase sobre a relação entre imprensa e clube de futebol que nunca esqueci: “Quanto mais você convive dentro das instituições, mais você quer voltar para a arquibancada e ficar apenas lá”. E é justamente sobre isso que venho pensando desde o ocorrido com o técnico Oswaldo de Oliveira e o repórter Léo Gomide. O assunto já foi debatido e esgotado, a proibição do repórter de entrar no centro de treinamentos do clube já foi retirada, mas a exposição do caso precisa gerar reflexão.
Após a confusão, vi muitos torcedores questionando o trabalho dos demais jornalistas. Li e ouvi pessoas dizendo que os repórteres não pressionam dirigentes e jogadores nas coletivas. Assuntos do cotidiano abordados por nós, profissionais da imprensa, foram questionados e denominados como desinteressantes para a grande parte da torcida. Então vamos falar sobre isso.
Ninguém que está de fora pode imaginar o quão difícil é fazer jornalismo em um meio em que praticamente todas as pessoas que te passam qualquer informação possuem um interesse oculto por trás. As pessoas não podem imaginar como é complicado filtrar o que ouvimos, sem nos enganarmos sobre a real intenção de determinado assunto ser vazado para a imprensa. E se nós, jornalistas, não tivermos uma excelente habilidade – que na minha opinião só aparece com muito tempo de trabalho – de filtrar tudo que recebemos, a chance de nos enganarmos é gigantesca.
Para piorar, muita gente não imagina como é complicado confirmar qualquer informação com os clubes de futebol. Donos “da posição oficial”, qualquer negociação que não vá pra frente ou que vaze e gere um desconforto no público é tratada como se nunca tivesse acontecido, colocando sempre em xeque o trabalho de apuração do jornalista. Uma posição muito confortável dos clubes, por sinal.
As pessoas talvez precisem saber como o nosso telefone toca. E toca muito. Toca quando sua pergunta foi mais incisiva na coletiva, quando sua apuração desagrada a cúpula do clube, ou quando uma crítica mexe com a vaidade de um gestor ou jogador. Os clubes possuem pessoas muito preparadas para te fazer aquela ligação e questionar o porquê de você não ter ligado para o presidente antes de soltar a matéria. Geralmente, aquele presidente que nunca te atende, que te diz hoje que não existe nenhuma conversa, mas que amanhã aparece com o anúncio da sua insistente tentativa de apuração na coletiva de imprensa. Tem até aquele dirigente que diz que só fala se for com o dono do jornal, como se o dono ligasse para alguém para confirmar informação.
Não vou ser corporativista como se nós, jornalistas, não errássemos por despreparo também. Eu já errei, já caí em fonte que me passou coisas que não se confirmaram. Tento, todos os dias, aprender com as situações desconfortáveis que já passei. Hoje, não deixo de me cercar de todos os lados. Até porque não é mais do que o meu dever também.
Sobre Léo Gomide: raramente erra em suas informações e possui toda essa habilidade a que me referi sobre filtrar e se cercar sobre o que informa. Talvez por isso tê-lo longe fosse a melhor opção.