Estamos no mês dedicado a alertar os brasileiros sobre o diabetes e seus impactos na saúde quando mal controlado e, ao mesmo tempo, sobre a importância de se fazer o teste de glicemia para descobrir precocemente o diagnóstico da condição. A campanha de conscientização é fundamental, pois a negligência no controle da glicemia está associada a complicações graves e a um alto custo para o sistema de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, mais de 60% dos 42,9 bilhões de dólares gastos anualmente com pessoas com diabetes no Brasil é direcionado ao tratamento de complicações decorrentes do controle inadequado da doença. Esse dado alarmante destaca a urgência de novas políticas de prevenção e diagnóstico.

A pesquisa Radar Nacional sobre Tratamento de Diabetes no Brasil, conduzida pelo Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade em parceria com a consultoria Imagem Corporativa, a partir de uma amostragem de 1.843 pessoas, mostrou que 30% dos brasileiros com diabetes apresentam descontrole glicêmico, e 42% nem sequer recordam o último resultado ou não sabem do que se trata o exame.

Os dados preocupantes refletem em consequências para a saúde: 12% dos participantes relatam retinopatia diabética, que pode levar à cegueira; 32% têm neuropatia; 25%, doenças cardiovasculares; e 23% enfrentam problemas sexuais. Outros 10% relatam nefropatia e lesões nos pés, complicações graves que poderiam ser prevenidas com acompanhamento regular e tratamento adequado.

Mas o que leva a um controle tão deficiente da glicemia no Brasil? A pesquisa identifica alguns fatores críticos: 13% dos pacientes relatam que seu médico não sugeriu uma periodicidade de acompanhamento, 10% não realizam consultas regulares, e 6% fazem menos acompanhamento do que deveriam. Outro dado relevante é que 58% das pessoas com diabetes são acompanhados por clínicos gerais ou médicos de família, ao invés de endocrinologistas, especialistas que poderiam proporcionar um tratamento mais específico e eficaz.

Além disso, o acesso a cuidados especializados é um obstáculo: 54% dos entrevistados que dizem estar na fila para consulta com oftalmologista, revelam a condição por mais de três meses, sem citar o tempo de espera pelos exames e pelos tratamentos, se houver alteração da retina. Nesse intervalo, muitos casos de retinopatia diabética avançam a ponto de causar danos irreversíveis à visão. 

Outro ponto crucial é a prevenção de infecções, que ajuda a controlar a glicemia. Apesar da alta adesão às vacinas contra COVID-19 e gripe, a maioria das pessoas com diabetes (69%) desconhece o calendário de vacinação específico para sua condição. Menos de 11% dos pacientes já utilizaram os Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs), que fornecem vacinas específicas gratuitamente pelo SUS. A baixa procura reflete a falta de informação sobre esses serviços.
Então, quais são as soluções para melhorar o controle do diabetes no Brasil?

O Vozes do Advocacy já solicitou a inclusão do teste de glicemia nas urgências e emergências, mas o projeto de lei avança lentamente na Câmara dos Deputados. A organização também sugere a atualização periódica dos profissionais de saúde sobre o tratamento do diabetes, uma medida que até o momento não foi atendida. 

Além disso, a organização também tem conversado com as Secretarias de Saúde Estaduais para entender a fila de acesso aos oftalmologistas e percebeu que uma pessoa, em média, no Brasil, demora 7 meses para conseguir uma consulta com o oftalmologista e mais 6 meses para conseguir o tratamento. Uma reorganização dos serviços de saúde para otimizar o atendimento especializado é essencial.

Neste Mês do Diabetes, há pouco a celebrar, mas há muito a ser feito. Como formiguinhas, estamos fazendo nosso papel de agentes transformadores na sensibilização das autoridades, do Governo e da sociedade como um todo para mudar essa realidade. Afinal, como disse Charles Chaplin, “A persistência é o caminho do êxito”.

*Vanessa Pirolo é jornalista, coordenadora do Vozes do Advocacy em Diabetes e em Obesidade