A exaustão de jazidas de minério de ferro e outros minerais, como já anunciada em Itabira, merece exame e debate. É o que nos advertiu o prefeito de Itabira, Marcos Antônio Lage, em entrevista na qual reafirma a necessidade de discutir a questão, entre outras temáticas inerentes à mineração e seus legados, como as barragens perigosas e seus descomissionamentos, após os desastres de Mariana e Brumadinho. 

O exemplo de Itabira é pedagógico e emblemático e fornece elementos básicos de discussão: como fica a cidade e seu território após ver esgotadas suas jazidas de minério de ferro exploradas por 116 anos e que representa, na atualidade, 80% da economia da cidade?

A mineração em Itabira começou em 1908, no Pico do Cauê, hoje extinto, por capitais ingleses, quando a siderurgia surgia velozmente no mundo. Em 1942, a então Itabira Ore Iron foi desapropriada por Getúlio Vargas que criou a Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale e que até hoje, já privatizada, explora o minério itabirano. 

Em acordo com os EUA e Inglaterra, em guerra com a Alemanha, Getúlio obteve apoio financeiro para criar a Vale e também a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. Ocorre que a Vale comunicou à Prefeitura que o esgotamento das jazidas determinará o encerramento da atividade em poucos anos mas que, hoje, é responsável por 80% da economia do município.

Na história mineira, Itabira já propiciou outros debates: Artur Bernardes, governador de Minas (1918 /1922) e presidente da República (1922/1026), autor da frase “minério não dá duas safras”, resistiu duramente, com visão nacionalista, a tentativas dos capitais ingleses de expandir a mineração no Estado, exigindo investimentos em indústria siderúrgica no território mineiro. Foi quem convidou o rei Alberto a visitar Minas Gerais, em 1920, que resultou na vinda da Companhia Belgo Mineira, inicialmente para Sabará, após recursa dos capitais ingleses.

Minas deve sua origem e seu nome à mineração, sua principal riqueza e que sustenta parcela da economia estadual e de várias cidades mineradoras. Mas, como nos lembra o exemplo de Itabira, precisa de debater a mineração, nos aspectos atuais e a extinção de jazidas, como ocorre em várias cidades. 

Diz o prefeito que só a Vale extraiu 2,5 bilhões de toneladas de minério de ferro da cidade, que sustentaram o desenvolvimento de vários países. E Itabira ainda apresenta carências sociais graves, na habitação e serviços sociais básicos. E reafirma a necessidade de maior discussão desta realidade, como vem sendo feito pela Associação dos Municípios Mineradores (Amig).

A remuneração das cidades mantém-se em 3,5% da renda auferida pelas empresas na exploração mineral, renda importante para os municípios mas que reclamam percentual maior, a exemplo de outros países, e em função da elevada lucratividade da mineração com o aumento da demanda mundial. E a exportação do minério não paga imposto, isenção dada pela Lei Kandir de 1996, com imenso prejuízo para Minas Gerais, que hoje acumula dívida de R$ 270 bilhões. 

Cidades que não se prepararam para o esgotamento viveram crises econômicas e sociais, como mostram os exemplos de Caeté e Nova Lima.

Itabira e sua história, o desmonte do Pico do Cauê, os capitais ingleses e a Vale, alterações da vida local , estão muito bem retratados por Carlos Drummond de Andrade, poeta maior itabirense, em inúmeros textos. Drummond, com a força de sua poesia, denunciou e impediu a quase destruição do Pico de Itabirito e da Serra do Curral, em BH, já iniciadas. Em 1944 mudou-se para o Rio e nunca mais voltou a Minas Gerais.

(*) Mauro Werkema é jornalista