A hospitalidade mineira é um dos aspectos mais marcantes da cultura do nosso estado, sendo moldada ao longo de mais de 300 anos por uma confluência de fatores históricos, geográficos e culturais. Este traço, que tanto encanta visitantes, é resultado direto do fluxo de imigrantes e viajantes que cruzaram as terras montanhosas de Minas, principalmente nas estradas do Norte do Estado, de São Paulo e ao longo da Estrada Real, antiga rota que ligava as regiões mineradoras do interior aos portos do litoral.

A Estrada Real foi um dos mais importantes corredores econômicos e culturais do Brasil colonial, sendo a principal via de transporte de ouro e diamantes. Esses caminhos trouxeram mais do que riquezas minerais; também transportaram pessoas, culturas e influências diversas, que contribuíram para a formação de uma identidade mineira única. Ao longo dessa rota, pousadas, fazendas e vilarejos se tornaram pontos de acolhimento para tropeiros, mineradores, comerciantes e religiosos, estabelecendo uma tradição de recepção calorosa e generosa.

O caráter montanhês dos mineiros, forjado pelo relevo acidentado e pela geografia isolada de Minas, também teve papel fundamental na construção dessa hospitalidade. A distância em relação à metrópole e às capitais litorâneas gerou uma sociedade mais fechada em suas montanhas, mas ao mesmo tempo aberta à troca de experiências e notícias da capital e de outros lugares, e também com quem por ali passava. 

Essa combinação de isolamento e abertura criou um ambiente onde o acolhimento ao viajante se tornou uma necessidade prática e, com o tempo, uma virtude cultural. Receber bem, oferecer abrigo, comida e uma boa conversa passou a ser parte da identidade mineira.

Além disso, o fluxo de imigrantes de diferentes partes do Brasil e do mundo que vieram para Minas Gerais ao longo dos séculos também deixou sua marca na hospitalidade local. Indígenas, portugueses, africanos, italianos, sírio-libaneses, espanhóis e muitos outros grupos contribuíram para a diversidade cultural de Minas e enriqueceram as tradições de acolhimento. As diferentes etnias e influências gastronômicas, por exemplo, ajudaram a criar a famosa cozinha mineira, que se tornou um símbolo dessa hospitalidade, com seus pratos fartos e saborosos servidos em mesas generosas.

A cozinha e sua porta aberta, que, nos apartamentos tomaram as feições das varandas gourmet, ainda é sinal de mineiridade. Varandas sempre foram em Minas extensão da sala de estar e muitas vezes fazendo a função dessa, com as pessoas tomando café, vinho ou uma cachacinha e comendo quitutes enquanto observavam as estradas e o movimento de quem passava.

Desse modo, podemos afirmar que as cozinhas abertas nas casas ao longo das estradas e nas antigas vendas eram verdadeiros pontos de encontro, onde não apenas se alimentava o corpo, mas também a curiosidade e o espírito. Essas casas estradeiras e vendas mineiras eram conhecidas por suas portas sempre abertas, prontas para acolher os viajantes, tropeiros e comerciantes que percorriam longas distâncias nas trilhas e estradas.

Nesses espaços, a hospitalidade transcendia a simples oferta de comida. As cozinhas se tornavam locais de convivência, onde os visitantes traziam notícias, novidades e histórias de terras distantes, criando uma ponte entre o mundo exterior e o cotidiano isolado da vida montanhosa mineira. Com a distância das metrópoles, esses encontros eram momentos preciosos de troca, em que as pessoas podiam se atualizar sobre os acontecimentos políticos, sociais e culturais, e conhecer novas ideias, produtos e costumes.

O fogão a lenha, o café fresco e o pão de queijo são parte essencial desse cenário, e Minas recebe os visitantes com um espírito de acolhimento quase cerimonial. Não é por acaso que somos, pelas pesquisas e percepções de quem nos visita, o povo mais acolhedor do país e, pela plataforma booking, estamos entre os 30 povos mais acolhedores do planeta.

(*) Leônidas Oliveira é secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais