Mariana Breim é diretora de políticas educacionais do Instituto Península
Se você tem filhos e divide este planeta comigo, em algum momento já deve ter se questionado sobre quando, quanto ou como permitir o uso do celular. Se você tem uma opinião formada e consegue colocá-la em prática mantendo um clima harmonioso em sua família, acaba de ganhar uma admiradora.
A grande maioria das famílias não tem certeza sobre como agir e, ao restringir ou proibir o uso do celular em casa, costuma enfrentar forte resistência. Se seus filhos são adolescentes, acrescente uma dose adicional de drama, discussões e acusações por estar destruindo suas vidas sociais.
Para além das decisões e dos enfrentamentos individuais de cada família, uma coisa é certa: o vício em smartphones foi se instalando devagar, por meio da oferta fascinante de prazer e recompensas imediatas. Aos poucos, fomos percebendo nossos filhos mais ansiosos, isolados, sedentários, com dificuldades no sono, dores de cabeça, problemas oculares e uma série de outros fatores que compõem uma lista que não para de crescer.
Nesse sentido, a lei federal que proibiu o uso de celulares em escolas desde 13 de janeiro deste ano não apenas enfrenta o problema de maneira corajosa, como também contribui para o debate público.
Nesta semana, tivemos a volta oficial das aulas no país. Se seu filho estuda em uma escola particular, provavelmente o celular já era proibido ou permitido apenas para usos pedagógicos, como prevê a nova lei. Porém, mais de 80% dos alunos brasileiros estudam em escolas públicas, nas quais a nova regra terá o desafio de sair do papel.
As escolas – especialmente as públicas, de tempo integral – representam um fator de proteção social para crianças de famílias em situação de vulnerabilidade, e a nova lei as torna mais seguras para todos os seus alunos. A proibição do uso de celulares não apenas melhora a saúde física e mental, mas também assegura o papel privilegiado da escola na construção das relações interpessoais e no desenvolvimento da criatividade.
No município do Rio de Janeiro, um dos primeiros a implementar a proibição, os resultados já apareceram. Foi observada não apenas a diminuição do ciberbullying, mas também melhora na aprendizagem. Sem celulares, os alunos aprendem mais.
Há, porém, um ponto de atenção. Proibir o uso de celulares em sala de aula pode ser um passo necessário para recuperar a atenção dos alunos, mas isso, por si só, não tornará a escola um espaço mais envolvente nem assegurará que as crianças atinjam os resultados de aprendizagem que nos tirará dos últimos lugares dos testes de desempenho internacionais. Para que a escola cumpra de fato seu papel, ela precisa se transformar em um ambiente vibrante, onde a curiosidade seja aguçada, a colaboração incentivada e as relações fortalecidas. Um lugar onde as crianças construam conhecimento explorando problemas instigantes, questionando o mundo e aprendendo com entusiasmo.
Essa mudança não acontece por decreto. Exige investimento, visão e, sobretudo, o fortalecimento dos professores, que são os verdadeiros catalisadores dessa transformação necessária e possível. Sem o apoio adequado, materializado em políticas públicas que enderecem os desafios da carreira, continuaremos apenas impondo restrições sem oferecer alternativas reais para que a escola se torne o lugar privilegiado de aprendizagem – e de saúde – que nossos filhos precisam e merecem.