José Antonio Obeid é doutor, professor do Departamento de Zootecnia da UFV/aposentado
Vários autores, por incompetência ou conveniência, artistas e outros deslumbrados ávidos por “aparecer” apontam a flatulência dos bovinos como grande responsável pelo efeito estufa. Uma inverdade que interessa a quem não consegue competir conosco, que somos o maior produtor e exportador de carne bovina do mundo. A COP30 será uma boa ocasião para rebatermos a falsa ciência.
Até lá, leigo e abelhudo, me atrevo a contestar algumas falácias usando meus conhecimentos gerais. Primeiro, aquelas que afirmam que o metano gerado é expelido por flatulência. Ele é expelido pela eructação (arroto) e é um gás de efeito estufa mais nocivo que o CO2. Entretanto, é preciso esclarecer que, na atmosfera, as moléculas de metano têm uma vida útil de 14 anos, enquanto o CO2 persiste por mais de século, e que essa dinâmica físico-química reduz em muito a influência real do metano no efeito estufa.
Omissão
Também, maldosa ou ignorantemente, eles omitem que esses herbívoros sobrevivem de forrageiras que retiram, pela fotossíntese, uma quantidade equivalente em metano entérico gerado de um de outro gás poluidor, o CO2. Estudando esse “balanço de carbono”, a pesquisa afirma que pode haver mais captura pela atividade pecuária em si do que pela liberação de gases de efeito estufa do processo digestório. O IPCC não aceita essa metodologia de cálculo, preferindo “incriminar” a pecuária. Conveniência econômica?
As bizarrices não param por aí. Propostas como a de eliminar os rebanhos ou proibir o arroz inundado que gera metano na decomposição da matéria orgânica foram sugeridas. Ambientalistas já sugeriram até mesmo reduzir o consumo de feijão, para evitar o aumento de metano, mais acentuado no metabolismo do grão. E a alimentação do brasileiro, como ficaria?
Herbívoros
Outra informação equivocada por conveniência é a de que a produção de metano cresceu muito com o aumento do rebanho, que beira 1 milhão de cabeças. Por maldade, “esqueceram-se” de que o rebanho de herbívoros selvagens do mundo, gerador de metano, decresceu e se aproxima da extinção.
Para ficar nas principais espécies, cito os bisões, os alces e outros cervídeos, além das enormes manadas de cavalos selvagens que habitavam a América. Na Europa, os cervídeos eram, também, abundantes, como eram os cavalos domesticados e os selvagens, além do rebanho bovino doméstico. Nas áreas mais frias, abundavam as renas e outros cervos, bois almiscarados e iaques.
Tudo isso é “tiquinho” se comparado aos rebanhos africanos de milhares de gnus, antílopes diversos, elefantes, rinocerontes, hipopótamos, zebras, girafas e outros, que geravam no processo digestório mais metano do que o rebanho bovino mundial.
Atividade humana
Os professores dr. Mollion e Ricardo Felício afirmam que as atividades humanas têm ação pífia sobre o clima mundial. As atividades vulcânicas e a dinâmica biológica das regiões pantanosas é que são as maiores produtoras de gases de efeito estufa.
Num artigo jocoso, o dr. Xico Graziano estimou que um homem gera 0,25 kg/ano de metano. Arredondando, 200 pessoas equivalem, em efeito estufa, a um bovino. Como somos 7 bilhões, produzimos 35 vezes mais metano que o rebanho bovino. Portanto, não é desprezível o efeito da flatulência do seu Zé. Brincando, pergunto se não estaria no aumento da população a causa do efeito estufa?
Se pântanos e vulcões há milhares de anos lançam gases na atmosfera e a Terra continua habitável, deixem o boi e a dona vaca arrotarem em paz, produzindo carne e leite para a humanidade. Chega de culpar o campo pelos desastres ambientais.