Alê Portela é secretária de Estado de Desenvolvimento
Social de Minas Gerais
A separação de Virgínia Fonseca e Zé Felipe movimentou o país nos últimos dias. Não apenas pelo fim de um relacionamento que parecia ideal, mas porque escancarou uma verdade inconveniente: estamos doentes. Como sociedade, adoecemos ao confundir imagem com essência, curtidas com afeto, performance com realidade.
O casal, seguido por milhões, parecia representar o pacote completo da felicidade contemporânea: sucesso financeiro, filhos encantadores, declarações públicas de amor. Mas a vida real, como sabemos, não cabe em um story de 15 segundos. E, quando o filtro cai, o que sobra?
O episódio é apenas mais um reflexo de uma sociedade obcecada por aparência. Mas também é um reflexo distorcido. Estamos ensinando nossos jovens – e até crianças – que o sucesso está na estética, na visibilidade, no engajamento. A saúde mental virou um detalhe. A vulnerabilidade, um risco à “marca pessoal”.
Adoecendo em silêncio
Diante disso, precisamos olhar para além dos nomes famosos e entender o que esse fenômeno revela sobre todos nós. Famílias estão adoecendo em silêncio, pressionadas por expectativas irreais e pela ausência de apoio. Relações são construídas – e destruídas – sob os olhos de um público invisível, mas exigente. E, muitas vezes, falta amparo emocional, orientação e escuta.
É aí que entra o papel do Estado. O fortalecimento dos vínculos familiares precisa ser reconhecido como uma política pública essencial. Famílias saudáveis são o alicerce de uma sociedade equilibrada. Precisamos de políticas que não apenas reajam a crises, mas que atuem preventivamente, promovendo diálogo, escuta e apoio emocional desde cedo.
Famílias Fortes
Nesse sentido, programas como o Famílias Fortes são fundamentais. Inspirado em uma metodologia internacional, o programa trabalha diretamente com pais e filhos para fortalecer os laços familiares, melhorar a comunicação e prevenir comportamentos de risco. É uma política que olha para dentro das casas – e não apenas para os números. Que entende que prevenir é melhor do que remediar. E que o cuidado começa na base.
Também é necessário que as escolas se tornem aliadas nessa missão. A recente aprovação da educação empreendedora nas escolas estaduais de Minas, da qual tive a honra de ser relatora, abre espaço para uma formação mais integral. Podemos (e devemos) incluir temas como inteligência emocional, uso saudável da tecnologia e construção de identidade no mundo digital.
O divórcio de Virgínia e Zé Felipe não é apenas o fim de um casamento famoso. É um sinal de alerta sobre os rumos que estamos tomando como sociedade. A responsabilidade não é deles. É nossa. E começa com uma pergunta: o que estamos fazendo, como poder público, para cuidar de quem cuida?
Porque, quando o filtro cai, o que sustenta uma vida não é o que aparece na tela – mas sim o que se constrói em casa.
(*) Advogada, professora, mestre em Direito, deputada estadual licenciada