Ivone Corgosinho Baumecker é presidente da Delegacia Sindical do Sinait em Minas Gerais (DS-MG/Sinait)

Mesmo fora das datas simbólicas, como o mês de abril, a discussão sobre a saúde e a segurança no trabalho deve permanecer viva e constante. A cada dia, centenas de trabalhadores brasileiros deixam suas casas sem saber se voltarão com saúde – ou se voltarão. Essa realidade não pode ser naturalizada. O trabalho não deve adoecer, mutilar ou matar.

Dados de 2024 mostram que mais de 555 mil acidentes de trabalho foram registrados no Brasil, resultando em 2.780 mortes e milhares de incapacitações permanentes. Isso, sem contar os inúmeros casos subnotificados ou ignorados. Em Minas Gerais, foram mais de 57 mil acidentes apenas este ano, com destaque para setores como a mineração e a construção civil, em que a negligência com normas de segurança ainda é recorrente.

Não são apenas números: são vidas interrompidas, famílias devastadas e sonhos soterrados por práticas inseguras e ambientes insalubres. Como auditora-fiscal do trabalho aposentada, e hoje na presidência da Delegacia Sindical em Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (DS-MG/Sinait), sigo acompanhando de perto essa realidade. O que vemos é uma triste repetição de tragédias que poderiam ser evitadas com medidas simples de prevenção.

Além do impacto humano, os acidentes de trabalho geram custos altíssimos para a sociedade. Estima-se que representam uma perda de até 4% do PIB nacional, algo em torno de R$ 429 bilhões por ano. São recursos que poderiam ser destinados a educação, saúde e infraestrutura, mas acabam cobrindo os danos provocados por falhas evitáveis.

E por que ainda falhamos tanto? Em grande parte, pela ausência de fiscalização e pela falta de cultura preventiva. O Brasil conta com pouco mais de 1.800 auditores-fiscais do trabalho para fiscalizar milhões de estabelecimentos. É um número muito aquém do recomendado pela Organização Internacional do Trabalho, que estima como ideal mais de 5.400 profissionais. Em Minas, por exemplo, apenas 45 novos auditores estão previstos para assumir funções, o que não cobre nem a reposição das aposentadorias.

É urgente que o Estado convoque os aprovados no último concurso e reforce o quadro de fiscalização. O combate à mão de obra análoga à escravidão, ao trabalho infantil e às más condições de trabalho passa, necessariamente, por uma Inspeção do Trabalho forte, estruturada e valorizada.

Também é necessário que empregadores assumam sua parte. Prevenir acidentes não é custo, é investimento. Garantir equipamentos de proteção, treinamentos adequados, pausas regulares e condições dignas não só protege vidas como melhora a produtividade e reduz o absenteísmo. É importante lembrar que o uso de equipamentos de proteção individual deve ser sempre a última medida, nunca a primeira. A responsabilidade pela prevenção começa na gestão e na organização do trabalho – não pode recair apenas sobre o trabalhador.

A prevenção deve estar no centro das políticas públicas e da gestão empresarial. A atualização da Norma Regulamentadora 1, que trata do gerenciamento de riscos ocupacionais, traz novos instrumentos para isso, como o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Mas não adianta ter normas modernas se elas não forem cumpridas.

Neste mês de junho – e em todos os outros meses do ano –, convido empregadores, trabalhadores e autoridades a refletir: o que temos feito, de forma concreta, para garantir que ninguém adoeça ou morra por causa do trabalho? A segurança no trabalho não é apenas um direito – é um compromisso coletivo com a vida, a dignidade e o futuro do país.