Juarez Alvarenga é jornalista e escritor

As ruas movimentadas de transeuntes rotineiros veem na monotonia das tarde pessoas se locomovendo - não só seus passos, mas também seus objetivos. A fisionomia de quem caminha para a realidade cansada da onipotente rotina que, como mangueira de sucção, absorve seus sonhos, os deixando perto da calamidade real, transpondo quimeras reprimidas.

Às duas horas da tarde, trânsito ainda complicado, vemos a filha do homem mais rico da cidade, em sua Mercedes, caminhar para o shopping center, pois, às quatro da tarde, tem de ir ao consultório do analista. Ela está com sérios problemas vivenciais.

Às duas horas da tarde, na prefeitura cheia, repousa sobre a mesa do prefeito uma robusta agenda com problemas práticos para serem resolvidos.

Às duas horas da tarde, percebemos a saída esporádica do filho do juiz que quer, como o pai, estudar a exaustão e sobreviver na vida com sua inteligência.

Às duas horas da tarde, vemos o forasteiro chegar à cidade, vindo de uma localidade vizinha, entrar no consultório de um médico de âmbito regional. Ele observa a secretária organizar os papeis com olhar desconfiado sob a TV, preocupada com diagnostico.

Às duas horas da tarde, percebemos o malandro de rua sem camisa que dá problemas para polícia ao caminhar no trânsito descontrolado - ao contrário dos malandros do Planalto que não saem das colunas policiais.

Nas ruas da cidade às duas horas da tarde, vemos a realidade surreal. As pessoas com seu figurino opaco, com mentes preocupadas - tenebrosas - com sua vida individual. Com roupas velhas, como a monotonia cotidiana, desfilam com um truculento e robusto desassossego.

Nas cidades às duas horas da tarde, a multidão no anonimato deixa transparecer que a vida, com seus castigos, empurra a realidade social com tênue força, dando a impressão de estagnação existencial.

Seu sonho é chegar em casa, pôr um chinelo nos pés e deixar a noite com sua magia a enfeitiçar, criando uma sensação de alivio existencial. Pois a mesma vida que nos dá despertador para levantar também é a que nos dá novela das seis.