Florianópolis é, hoje, a capital brasileira com maior participação do setor tecnológico em sua economia. De acordo com estudo da Associação Catarinense de Tecnologia em parceria com a prefeitura, 25% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade vem da tecnologia. É mais do que Curitiba, com 14,4%, São Paulo, com 12,5%, Belo Horizonte, com 9,7,% e Porto Alegre com 9,3%. No Brasil, apenas o município de Barueri, na região metropolitana de São Paulo, registra índice superior: 27,2%.

Esse protagonismo não surgiu por acaso. Na década de 1980, Florianópolis tinha economia frágil, dependente do funcionalismo público e do turismo sazonal. Com 70% do território em áreas de preservação ambiental, a cidade não podia crescer com base em um modelo industrial. A saída foi apostar no conhecimento. A Universidade Federal de Santa Catarina, referência nacional em engenharia e computação, estruturou programas de inovação, centros de pesquisa e iniciativas para geração de empresas nascidas na universidade. Em 1986, foram criados a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras e o Centro de Empreendedorismo para Laboratórios de Tecnologias Avançadas, primeira incubadora tecnológica do Brasil.

Redução de imposto

No mesmo período, surgiu a Associação Catarinense de Tecnologia, que articulou o setor produtivo em torno de metas de longo prazo. A prefeitura reduziu o Imposto Sobre Serviços (ISS) para a alíquota mínima de 2%, criou a Lei Municipal de Inovação em 2014, incluiu zonas especiais no Plano Diretor e investiu em conectividade. O governo do Estado também contribuiu com a Lei Estadual de Inovação (2008, atualizada em 2018) e com programas como o Geração Tecnológica e o Sinapse da Inovação, que já distribuíram mais de R$ 30 milhões a startups locais.

Nos anos 2000, foi criado o Sapiens Parque, com 4,5 milhões de metros quadrados dedicados à inovação. O espaço abriga centros de pesquisa, laboratórios de biotecnologia e inteligência artificial, além do Centro de Inovação Tecnológica da Associação Catarinense de Tecnologia e o centro de carne cultivada da JBS, com investimento de R$ 308 milhões.

Crescimento empresas

Entre 2010 e 2023, o número de empresas de base tecnológica em Florianópolis passou de 600 para 6.099. Essas empresas faturam R$ 12 bilhões por ano e empregam cerca de 40 mil pessoas. A cidade tem a maior densidade tech do Brasil: 7,4 empresas por mil habitantes. Embora 88% faturem até R$ 360 mil por ano, Florianópolis gerou nomes bilionários, como Resultados Digitais (vendida por R$ 1,86 bilhão) e Neoway (vendida por R$ 1,8 bilhão).

O desafio atual é a formação de mão de obra. Há entre 1.800 e 2.000 vagas não preenchidas. Para enfrentar isso, a prefeitura criou um programa em parceria com a Federação das Indústrias e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, formando 800 programadores por ciclo. A meta é capacitar 100 mil pessoas até 2030.

Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, onde 9,7% do PIB vem da tecnologia, alguns avanços começam a aparecer. A vereadora Marcela Trópia liderou a regulamentação do Marco Legal das Startups, permitindo à prefeitura contratar oito empresas para resolver problemas públicos por meio da inovação. 

Também foi implantado o sistema de emissão de alvará em até nove horas, por meio do Portal do Empreendedor. A prefeitura ainda alterou o Decreto Municipal 17.044, de 2019, por meio do Decreto 19.131, de 2025, estendendo os benefícios do Programa de Incentivo à Instalação e Ampliação de Empresa a startups e instituições científicas e tecnológicas. Com isso, empresas no Parque Tecnológico de Belo Horizonte e no P7 Criativo passaram a ter isenção do ISS para atividades incentivadas.

Economia do futuro

Tenho proximidade com esse setor, não só por sempre ter atuado a seu favor nos oito anos de mandato como vereador, como também por experiência prática. Fui responsável por tirar do papel o aplicativo Meu Vereador, construído como uma ferramenta de aproximação entre mandato e população. Também trabalhei na empresa JusBrasil, uma legaltech, na qual atuei por alguns anos e sou acionista. Acompanho esse ecossistema com muita atenção. É uma seiva fundamental para nosso futuro.

Belo Horizonte tem universidades, localização estratégica e gente qualificada. Contudo, ainda está muito atrás. Florianópolis não apenas saiu na frente. Ela correu uma maratona, enquanto Belo Horizonte nem começou o aquecimento. O que foi feito em Santa Catarina é referência de como se constrói uma economia do futuro. Se quisermos disputar esse espaço, teremos de correr atrás do prejuízo. Sem desvio, sem atraso, sem desculpa.