Helio Cruz é CEO da MedExperts
A obesidade é um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade. No Brasil, afeta cerca de 50 milhões de pessoas, conforme o Atlas Mundial da Obesidade 2024. Apesar disso, muitas vezes, ela é tratada com descaso, preconceito ou desinformação. O mesmo estudo aponta que 68% dos brasileiros estão com excesso de peso, sendo 31% com obesidade e 37% com sobrepeso. E o cenário tende a piorar. As projeções para 2030 indicam crescimento expressivo: a obesidade entre homens pode aumentar 33,4% e, entre mulheres, 46,2%. Não é exagero dizer que vivemos uma epidemia silenciosa.
Ao contrário da crença popular, a obesidade não é simples nem resultado exclusivo de más escolhas individuais. É uma doença crônica complexa, multifatorial, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Envolve componentes genéticos, metabólicos, emocionais, sociais e ambientais. Está ligada a uma série de comorbidades, como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, dores articulares, apneia do sono e vários tipos de câncer. Além disso, impacta profundamente a saúde mental, com quadros de ansiedade, depressão e isolamento social. Muitas vezes, o ambiente em que vivemos dificulta a adoção de hábitos saudáveis.
A correria do cotidiano, o estresse constante, o fácil acesso a alimentos ultraprocessados e o custo elevado de produtos naturais tornam a prevenção ainda mais desafiadora. Para grande parte das famílias brasileiras, ter uma alimentação equilibrada é um luxo. Em regiões vulneráveis, a obesidade convive com a pobreza e com a insegurança alimentar, evidenciando um paradoxo cruel: falta comida, mas sobram doenças.
Outro ponto em que precisamos evoluir é na preparação dos profissionais de saúde. Ainda hoje, a formação médica básica oferece pouco, ou quase nada, sobre obesidade em sua complexidade. O resultado é uma abordagem limitada, centrada na perda de peso a qualquer custo, muitas vezes com discursos que afastam o paciente em vez de acolhê-lo. Nós precisamos de mais ciência e menos julgamento.
Como empreendedor e educador da área de medicina, acredito que o caminho para virar esse jogo passa por formação médica continuada e pelo fortalecimento de práticas baseadas em evidências. A boa medicina não pode ignorar uma epidemia que cresce diante dos nossos olhos. Ela precisa estar preparada para enfrentá-la, com técnica, empatia e atualização constante.
Foi pensando nisso que criamos, em parceria com a Faculdade Sirius, o 1º Simpósio Brasileiro de Medicina da Obesidade, evento 100% online, que será realizado em 20 de setembro de 2025, com foco na capacitação prática exclusiva de médicos. Nosso objetivo é ampliar o olhar sobre a obesidade, discutir abordagens modernas, como o uso de análogos de GLP-1 (hormônio natural produzido no intestino em resposta à ingestão de alimentos), e promover estratégias que ajudem médicos a transformar seus consultórios em espaços verdadeiramente resolutivos.
A obesidade é um problema de saúde pública urgente. E só conseguiremos enfrentá-la com educação, responsabilidade e compromisso com a ciência.