Manuela Lolato é arquiteta e designer de interiores/LOLA Studio

No dia 17 de agosto, comemoramos o Dia Nacional do Patrimônio Histórico e, em 2025, celebramos ainda os cem anos do estilo art déco. Um duplo motivo que merece comemoração e também reflexão, principalmente para nossa capital Belo Horizonte.

A data homenageia o historiador, jornalista e advogado Rodrigo Melo Franco de Andrade, nascido na capital mineira em 1898, sendo o primeiro presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cargo que ocupou por 30 anos, e espírito incansável na luta pela preservação do patrimônio brasileiro. Hoje temos mais de 45 mil itens tombados no país, incluindo prédios, cidades e patrimônios naturais, e em BH são mais de 2.000 imóveis tombados ou neste processo.

Por isso, falar de patrimônio histórico é falar de Belo Horizonte e de art déco, este que na verdade foi um grande movimento que começou na Europa, no início do século XX, e se manifestou nas artes, no design, no cinema e, principalmente, na arquitetura.

O art déco chegou a BH nas décadas de 1930 e 1940, refletindo uma sociedade moderna, otimista e voltada ao progresso. Transformou a paisagem urbana da jovem capital de forma rápida e marcante. Hoje, BH é uma das cidades com um dos maiores acervo art déco do Brasil.

Cine Theatro Brasil Vallourec, Prefeitura Municipal, Minas Tênis Clube e Edifício Acaiaca – por muito tempo o mais alto da capital – são ícones do estilo, marcado por sofisticação, inovação tecnológica, formas geométricas, linhas retas, ângulos fortes, vidro e concreto armado.

Essas características emblemáticas foram tão bem-aceitas e incorporadas que o art déco, considerado de luxo e de elementos nobres, foi a primeira manifestação de arte de massa, fazendo-se expressar também em habitações residenciais e comerciais menores que, muitas vezes, passam despercebidas, mas são essenciais à identidade visual da cidade.

Infelizmente, o avanço desordenado já custou a Belo Horizonte obras de valor histórico, como o Cine Metrópole, demolido em 1983. Persiste a ideia de que, se a construção “saiu de moda” ou “caiu em desuso”, deve ser demolida. É claro que existem mais questões envolvidas – políticas e econômicas –, mas cada perda representa um capítulo apagado da nossa narrativa urbana. 

É inquestionável também que a arquitetura é viva e está a serviço da vida, não parada no tempo. Entretanto, temos que pensar em como podemos valorizar um legado sem temer a transformação, permitindo novos usos que preservem a essência e integrem materiais originais a soluções atuais. 

É por isso que datas como 17 de agosto servem para celebrar o patrimônio que é parte da nossa história e de quem somos e para chamar atenção para o risco de perda dessas memórias arquitetônicas diante do avanço urbano desordenado. 

BH não é apenas um lugar. É um legado de linhas, pedras e histórias, especialmente sob a elegância do art déco, que há um século traduz modernidade e sofisticação em nossa paisagem urbana. Que esta data nos lembre que patrimônio é identidade de um povo, de uma cidade que é viva e que evolui, mas que precisa valorizar o passado e dialogar com o presente.