Luísa Cardoso Barreto é diretora-presidente da Codemge
Dizem que escrever com a mão esquerda ensina humildade. O traço vacila, mas, diante da insistência, ganha firmeza. Eu mesma recorro a essa metáfora para explicar o dilema de qualquer empresa que precisa sustentar resultados imediatos enquanto se atreve a explorar o futuro. Chamamos essa coreografia de “ambidestria organizacional”. Hoje, defendo que ela é condição de sobrevivência no mercado.
Na prática, a ambidestria exige que a mesma estrutura que garante o bom funcionamento da operação cotidiana, com suas metas, rotinas e controles, também seja capaz de gerar futuro. Isso significa investir em novos modelos, testar caminhos paralelos, antecipar cenários e correr riscos. A lógica é quase contraintuitiva: explorar sem perder eficiência, inovar sem perder solidez. O dilema é antigo, mas vem ganhando um peso ainda maior diante de incertezas geopolíticas, disrupções tecnológicas e pressões sociais que reconfiguram o papel das empresas no mundo.
Vejo muito dessa óptica no debate sobre o futuro da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). A eventual federalização da companhia, a ser definida entre seu acionista majoritário – o governo do estado – e a União, reforça a importância de um pensamento ambidestro. Independentemente do desfecho, a missão não muda: garantir entregas públicas relevantes no presente e no futuro próximo e oferecer todas as condições para sustentar uma visão estratégica que amplie a contribuição da Codemge para Minas Gerais.
Em uma frente, a organização avança na estruturação de projetos que ampliam o impacto da infraestrutura pública. O Complexo de Saúde Hope, que será o melhor e um dos mais modernos conjuntos hospitalares de atendimento público da América Latina, e o Água dos Vales, voltado à universalização dos serviços de água e esgoto em regiões historicamente negligenciadas, revelam uma atuação técnica que conecta políticas públicas a soluções viáveis para problemas do presente.
Já em outra frente, a empresa, olhando para o futuro, se volta ao fortalecimento de sua sustentabilidade econômico-financeira, diversificando suas fontes de receita e reduzindo gradualmente a dependência dos dividendos do nióbio. Iniciativas como o programa Cidade Parceira, que apoia municípios na estruturação de concessões, ilustram bem este caminho: além de contribuir para a melhoria dos serviços públicos locais, a remuneração futura oriunda das concessões estabelece uma nova lógica de geração de valor compartilhado.
Soma-se a este contexto de transformação e expansão estratégica uma nova campanha de posicionamento da Codemge, que torna mais clara essa atuação ambidestra para os públicos externos e melhora a presença e a percepção da marca em mercados estratégicos.
Essa combinação de ação presente com visão de futuro demonstrada pela companhia ainda gera receio em empresas menos maduras. A ambidestria, no entanto, não exige escolher entre um ou outro. Exige combinar. E é nessa combinação que se revela o ecossistema moderno dos negócios: ser presente com relevância e ser futuro com intencionalidade.