Acílio Lara Resende

Acílio Lara Resende

Acílio Lara Resende é jornalista e escreve às quintas-feiras

ACÍLIO LARA RESENDE

A educação e as enchentes no Rio Grande do Sul

A responsabilidade maior é dos nossos representantes

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 23 de maio de 2024 | 07:14
 
 
 

Dados do Censo de 2022, divulgados semana passada, mesmo com a demonstração de que o Brasil chegou, historicamente, ao menor índice de analfabetismo, ou seja, de 7% da população acima de 15 anos, ainda é muito alto o número divulgado: 11,4 milhões de brasileiros não sabem ler, nem escrever. Muitos não são capazes sequer de assinar o próprio nome. Juntem-se esses milhões aos milhões de analfabetos funcionais e a coisa piora consideravelmente. 

É certo que a “falta de educação” contribuiu, sem dúvida, para que os gaúchos pudessem viver, hoje, uma verdadeira catástrofe. Para ser mais preciso, e para não parecer que algum Estado membro possa escapar da tragédia que é a educação, aqui vai um adendo: a responsabilidade maior é dos nossos representantes – no Congresso Nacional, nos estados membros e nos 5.568 municípios, todos eles escolhidos por nós.

Desigualdade

Educação é como esgoto, que se esconde debaixo da terra. Os dois não dão voto. Mas o pior está na desigualdade: o índice de analfabetos é maior no Nordeste e entre negros e indígenas. E tem mais: 20% da população idosa não sabem ler, nem escrever. Dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 450 já foram afetados.

A tragédia, provocada pela raiva da natureza, já cansada do descaso que os humanos nutrem por ela, parece que não terá fim. 

As escolas gaúchas vivem em verdadeiro clima de pandemia e sem prazo para o retorno às aulas. As enchentes foram responsáveis ou pela paralisação ou pelo funcionamento precário de mais de mil unidades de ensino. A paralisação e o mau funcionamento trarão, com certeza, enormes prejuízos para crianças e adolescentes. Mais de 500 mil pessoas não estão em abrigos, mas morando de favor. Em meio a essa tragédia, há muitos casos de comovente solidariedade. 

O Brasil é uma República Federativa, tem 26 Estados e mais de 5 mil municípios (5.568?). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 70% têm em torno de 20 mil habitantes e mais de 50 municípios têm mais de 500 mil habitantes.

Desastre climático

A péssima notícia é que uma em cada três cidades brasileiras corre o risco de desastre climático, como o do Rio Grande do Sul. Levantamento do governo federal mostra que 1.942 municípios estão localizados em áreas perigosas – de risco de inundações, enchentes e deslizamento de terra. Mas o número é subestimado, pois, no levantamento, foram listadas 142 cidades gaúchas, quando, na realidade, mais de 450 já foram afetadas. 

Em dez anos, o Congresso Nacional aprovou pelo menos 11 leis que afrouxaram as normas de proteção ambiental. E, segundo Fernando Gabeira, Eduardo Leite, no seu primeiro mandato, “mexeu em 480 pontos do Código Ambiental para flexibilizá-lo”. Em Minas (atenção, mineiros!), dos seus 853 municípios, 437 – mais da metade –, segundo reportagem de O TEMPO, são vulneráveis. 

Que o sofrimento do povo gaúcho não seja em vão. 

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