Amigo bolsonarista de coração e alma me abordou no fim da semana passada e foi logo me perguntando se eu gosto de notícia triste. Sem esperar minha resposta (que nunca lhe daria), me disse que tinha uma, fúnebre até, e, mesmo diante do meu silêncio obsequioso, aumentou o tom de voz e, num desabafo, afirmou: “Esse Paulo Guedes vai cair! Ele ficou doido! Só tem feito besteiras (a palavra usada foi outra, mas fica por conta do leitor descobrir qual delas ele escolheu)! Ele foi o ‘posto Ipiranga’ do Bolsonaro! Mas hoje ninguém mais o suporta!”.
O bolsonarista convicto não se conteve e, enfim, arrematou: “Até um pequeno negócio é difícil de tomar conta, imagine governar um país complexo como o nosso”. E concluiu: “Eu quero o bem do Brasil e, por isso, torço para que Bolsonaro dê certo. Só deixarei de apoiá-lo se ele começar a roubar. Enquanto for honesto, eu o apoiarei”.
A justificativa usada pelo amigo me levou a refletir sobre a “estupidez humana”, que nada tem a ver com ele, mas com a criatura humana de modo geral. Por coincidência, a cientista Margareth Dalcolmo concluiu seu último artigo (“O novo e o velho negacionismo”) citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “Resolver tapar os ouvidos aos mais válidos argumentos contrários pode revelar caráter forte, porém igualmente pode significar a vontade levada até a estupidez”.
Na verdade, a estupidez humana foi sempre grande preocupação de muitos de nós, estudiosos ou não. Lembrei-me, então, do livro “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, do falecido ex-professor de história econômica da Universidade da Califórnia Carlo M. Cipolla. Sobre o livro, disse Antonio Prata: “Em tempo de terraplanismo, esse curto tratado, ao mesmo tempo hilário e seriíssimo, deveria ser leitura obrigatória de toda a parcela não estúpida da população (enquanto ainda existe e não for engolida pela ascensão dos estúpidos)”.
Prometo: pretendo adquirir o livro de Cipolla e lê-lo. Na realidade, a estupidez humana – que é uma das formas de poder – é onipresente desde que o mundo é mundo. E há mais gente estúpida do que se pensa. Enfrento-a, diariamente, no trânsito de Belo Horizonte.
Mas o pior mesmo é ser vítima da estupidez de um governo representado por alguém que parece não ter consciência do que de fato representa. Que precisaria ler o livro de Cipolla, embora já não se saiba se haverá tempo suficiente para urgentíssima correção de rumo.
Bolsonaro se enquadra no que disse o filósofo alemão. A comemoração no último dia 7 de setembro ao lado de várias crianças – e ele sem máscara – é mais uma prova disso. Naquele dia, mais de 83% dos brasileiros, que defendem o uso da máscara contra o Covid-19, segundo pesquisa recente do Ibope, o recriminaram. Isso é muito triste. Eleição é coisa séria, e 2022 já está aí.