Acílio Lara Resende

Já passou da hora de se pensar no dia seguinte

O que falta à democracia é conciliação, respeito e paciência


Publicado em 21 de novembro de 2019 | 03:03
 
 
 
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No ano passado, alguns dias antes do primeiro turno das eleições que aconteceram em outubro, publiquei aqui neste jornal artigo com o mesmo título que propus para estas linhas. Manifestei, na ocasião, a mesma preocupação que ainda tenho hoje – a de que a sensatez é matéria-prima na política.

Desde aquele instante, já se dizia que as eleições seriam travadas entre petismo e antipetismo, embora o voto estivesse sendo guardado a sete chaves. De Pedro do Rio, no município de Petrópolis, onde me encontrava à procura de um pouco de paz de espírito, referi-me ao estranho silêncio sobre os nomes de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Deu, afinal, o que se previa: Bolsonaro presidente.

Em dado instante, após me referir àquela estúpida polarização política, por sinal nada original e, sob todo aspecto, perigosa e insensata, desabafei: “O apelo à sensatez, feito com atraso pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pode ser dirigido agora aos candidatos escalados para o segundo turno. É oportuno frisar que qualquer dos dois, para alcançar êxito em sua missão – a de pacificar um povo extremamente diversificado e complexo –, terá que buscar apoios no Congresso Nacional, com vistas à formação de ampla maioria, capaz de levar a bom termo as reformas urgentes e indispensáveis ao país. Como a natureza – concluí assim –, a política não dá saltos. A democracia é só um processo. Ela requer conciliação, respeito, paciência e civilidade”.

E o que falta hoje à nossa democracia – e isso poderá levá-la à falência total – é conciliação, respeito, paciência e civilidade. De lá para cá, tanto na direita quanto na esquerda, a polarização se tornou mais perigosa ainda, embora o ex-presidente Fernando Henrique, acompanhado de alguns poucos outros políticos sensatos, continue defendendo o caminho do meio. Repita-se mil vezes, então, sem nenhum medo, que é impossível governar este país sem o apoio, no Congresso Nacional, de maioria disposta e capaz de pensar no povo brasileiro como um todo.

Escrevo estas linhas enquanto as chuvas, com força e vontade, choram de pena da nossa cidade. Escurecem-na antes da hora, aumentando muito a tristeza, que já é grande e se torna ainda maior quando nos perguntamos, aflitos, para onde caminha nosso país?

Em Belo Horizonte, os casos de Aids cresceram 797% e, segundo o IBGE, no Brasil, 15,2 milhões vivem abaixo da linha da pobreza, enquanto jovens entre 14 e 29 anos são os que mais sofrem com o desemprego. Apesar de tudo, a polarização continua, como se o pensamento humano se reduzisse a essas duas correntes – estéreis e fanáticas – que só pensam em destruir os que não estão de acordo com o que professam.

O país só precisa de sensatez, não de mais partidos.

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