Não está fácil descobrir assuntos que nos distraiam. As más notícias continuam e vão perdurar por mais tempo se o país não decolar como prometeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, no início do governo. Aliás, no fim de semana passado, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que a economia está 100% entregue ao ministro. Só que, decorridos nove meses, estamos à espera de um milagre.
Na mesma toada, e segundo o ministro da Justiça, Sergio Moro, em entrevista à revista “Veja”, a democracia no Brasil não corre nenhum risco, pois o balanço desses primeiros meses é positivo. Para ele, a taxa de homicídios caiu e milhares de pessoas deixaram de perder a vida: “Falar em risco à democracia é um exagero. O governo não tem controle do Congresso, não tem controle do Judiciário. A imprensa fala o que quer. Qual é o risco à democracia?”, indagou. As campanhas permanentes nas redes sociais que pregam o ódio e, além dele, o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso, produzidas por apoiadores radicais do presidente e que se alinham a uma direita extremada, não têm qualquer importância?
Há dois julgamentos no Supremo que serão brevemente submetidos ao plenário da Corte, como disse o ministro Dias Toffoli. O primeiro trata da possibilidade da prisão de réus condenados em segunda instância; o segundo aborda o alcance da decisão que dá ao réu delatado o direito de ser o último a depor. Mas essas decisões, leitor, quaisquer que sejam, não trarão o condão de promover a paz; ao contrário, acirrarão os ânimos ainda mais e aumentarão o ódio entre os brasileiros.
Por sua vez, o pacote anticrime do ministro Sergio Moro, que já teve algumas das suas propostas rejeitadas pelo Congresso, e que custará ao país R$ 10 milhões em propaganda, cujo objetivo é pressionar o Congresso, também não ajudará na promoção da paz social. O combate à corrupção e à violência só terá sucesso em longo prazo, por meio de investimentos pesados na educação. Só ela será capaz de diminuir a cruel desigualdade social, essencial à diminuição da violência.
Ao chegar à Brasília, onde estou desde quinta-feira passada, li no “Correio Braziliense” de domingo duas péssimas notícias: a primeira tratava da abertura da caixa-preta da PGR, anunciada pelo novo procurador geral da República, Augusto Aras, que pretende investigar as gestões, sobretudo, de Rodrigo Janot e de Raquel Dodge; a segunda dizia respeito ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, denunciado, ao lado de outras dez pessoas, pelo Ministério Público.
Em sua última crônica em “O Globo”, o jornalista angolano José Eduardo Agualusa se vale do moçambicano Mia Couto, seu companheiro de sofrimento, artes e ofícios, para dizer aos brasileiros estas belas e convincentes palavras: “A única forma de contrariar o alastramento da insensatez e da violência passa por restabelecer o diálogo. Por muito difícil que possa parecer, é imperioso parar e ouvir o outro”.
É só disso, senhores, que necessita nosso país!