Renovar política merece aplauso, mas há muitos perdidos

O Brasil já teve grandes homens públicos

O Brasil já teve grandes homens públicos Renovar política merece aplauso, mas há muitos perdidos


Publicado em 25 de julho de 2019 | 03:01
 
 
 
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Entusiasmei-me com políticos do passado, que hoje estão mortos ou entregues ao ócio com dignidade. O Brasil – não só Minas – teve notáveis homens públicos. Penso, sem saudosismo, que nosso país já foi melhor, o transporte público já foi melhor, a educação já foi melhor. Na saúde, do ponto de vista humanístico, a medicina já foi melhor. A anamnese, que desapareceu da rotina dos consultórios, era a principal preocupação do médico, que não tinha cliente, tinha paciente.

Muita coisa mudou para melhor: outras, para pior. As conquistas tecnológicas são admiráveis, mas elas estão nos tornando desumanos. Não dá para comparar o país de 50 ou 60 anos atrás com este no qual vivemos hoje.

Os milhões de brasileiros da terceira idade, que não se atualizam ou que não dão conta de se atualizar, não compreendem o que a tecnologia fez com a relação humana. Isso é causa de depressão.

Conheci bons atores políticos que surgiram depois da redemocratização, quando demos adeus a uma ditadura que durou 21 anos. Muitos deles, no início, inspiraram confiança, mas foi grande a decepção com a incrível lambança que alguns aprontaram no país todo.

Assisto agora, leitor, à nova tentativa de renovação de quadros políticos que merece aplauso, mas só na intenção. Na verdade, a maioria desses novos atores – que se aboletaram, sob novas siglas, em governos estaduais, no Senado, na Câmara Federal, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras municipais – é desanimadora.

Seus partidos estão perdidos, e os que se elegeram, mais perdidos ainda. Alguns são adeptos do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal…

Mais desanimador ainda é ver um político calejado como o presidente Bolsonaro – que integrou uma vez a Câmara Municipal da cidade de Rio de Janeiro e sete vezes a Câmara Federal – dizer, depois de críticas à indicação do filho para embaixada nos Estados Unidos, absurdidades que precisam ser esquecidas pelos brasileiros.

Termino dizendo que nenhum político matará em mim a fé que tenho neste país. Como exemplo, cito o ex-ministro Carlos Ayres Brito, que nos brindou, no dia 22 de julho, com bela entrevista no programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Deu-nos lição de cultura humanística e jurídica, de civilidade, de liberdade e democracia. De inteligência, enfim!

Com certeza, a entrevista poderia servir de norte seguro ao presidente e aos seus assessores mais próximos. Assistindo a ela, refletiriam mais sobre a necessidade de um pacto definitivo em favor da Constituição e da democracia, proposto pelo ex-ministro.

Pode ter sido mais um ato falho, mas, quando o presidente chamou os nordestinos de “paraíbas”, correu o risco de cometer dois crimes ao mesmo tempo – o do preconceito (de origem) e o de responsabilidade, ao negar a um ente da Federação tratamento igualitário. Afinal, somos todos brasileiros.

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