Acílio Lara Resende

O ministro da Economia assumiu com muita disposição

Esperamos que ele saiba enfrentar as vicissitudes


Publicado em 28 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, assumiu o ministério com muita disposição. Convocou assessores competentes e, com o apoio do Congresso Nacional, que exerceu papel de protagonista, aprovou a reforma da Previdência. Não entregou quase nada, porém, no setor das privatizações. No início, quando o ouvimos falar sobre venda de empresas públicas, muitos de nós nos entusiasmamos: “Agora, sim – pensamos –, o Brasil caminhará em direção ao desenvolvimento”. Logo após, viu-se que o gigante não era assim tão fácil de ser encarado.

Às vezes, o ministro exagera no entusiasmo e fala o que não deve com eloquência, disposição e otimismo indesejáveis. Já disse, por exemplo, que o rico sabe poupar, mas que o pobre precisa aprender a poupar. Quando disse isso, quase me retirei de campo. Pensei em cancelar minha matrícula de brasileiro esperançoso. Segundo pesquisa recente, mais de 100 milhões de brasileiros vivem com a quantia de R$ 416! Não será nada fácil ensinar o pobre a poupar…

Paulo Guedes trabalhou também no Chile, durante a ditadura de Pinochet (e isso pode não significar coisa alguma), e pensou em adotar aqui o modelo de Previdência por capitalização – a maior causa da crise chilena. Graças ao Congresso, a ideia foi, afinal, arquivada.

O Brasil necessita depressa de outras reformas, já anunciadas pelo ministro com idêntica disposição. Todas são urgentes. A tributária e a administrativa precisam sair logo do papel. Mas o presidente Jair Bolsonaro, demonstrando preocupação com quem de fato não tem se preocupado tanto – o pobre, o povo, o operário etc. –, deu uma freada nos dois projetos. Qual terá sido a causa? A criação do partido Aliança pelo Brasil? Ou o que lhe interessa mesmo são as eleições de 2022?

Esperemos que o ministro Paulo Guedes, que nasceu no Rio de Janeiro, mas estudou por muitos anos em Minas, de um modo ou de outro, e com a ajuda do Congresso Nacional, saiba enfrentar as vicissitudes que virão. Ele conhece bem os limites do regime democrático e sabe que, sem ele, não haverá saída para o país.

O efeito Chile também pode estar mudando a cabeça do presidente, que reagiu às declarações de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que fala em “agenda de combate à pobreza” um dia sim e o outro também. Pressionado por essa agenda social, já se dispôs a trabalhar em favor de uma política que vá de encontro ao que é o verdadeiro nó górdio do nosso país – a gritante, cruel e estúpida desigualdade social.

A ideia fixa com sua reeleição em 2022 é tamanha que Bolsonaro descobriu agora o eleitorado do Bolsa Família. Por isso, já apelou para o economista Ricardo Paes de Barros, um dos responsáveis pelo programa no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tudo, então, a partir de agora, será pelo social…

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