Um amigo me felicitou pelo retorno a este espaço, ocorrido na semana passada. “Mas acho, disse-me ele, que você deveria se distanciar da política, pois ela tem feito mais mal do que bem, e sob todo ponto de vista” E concluiu: “Há assuntos à vontade que, explorados ‘pela sua pena’, com certeza amenizariam estes dias terríveis e tristes”.
Levei um susto, leitor, pois escrever sobre política não está fácil. Lembrei-lhe, porém, de que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Afinal, somos todos responsáveis pelo destino do nosso país. E a crítica é uma das armas que dispomos contra os maus governos.
Infelizmente, foi-se o tempo em que, na administração pública, contávamos com políticos interessados no bem público, que enobreciam a velha arte, principalmente a sua prática. “Cobrir política” (como ainda se diz no linguajar jornalístico) era prazeroso. Autênticos servidores, inteligências a serviço das boas causas não eram exceções. A coisa piorou a partir das eleições de 2018 para cá, quando passamos a viver um dos períodos mais rasos e pobres da nossa história republicana.
Política já foi um assunto rico e ameno, que envolvia muita gente que não merecia estar nela, mas envolvia, também, leitor, “gente boa”, como diria meu caríssimo amigo frei Cláudio Van Balem.
Os cargos públicos, em sua maioria, já foram ocupados por autênticos “homens públicos”, que só estavam lá porque queriam servir ao bem comum, uma expressão que se perdeu no tempo. Esses últimos 30 anos, contados a partir da Constituição de 1988, são uma prova do que digo.
Excluí, de propósito, os últimos dois anos, quando se iniciou o mandato do presidente Bolsonaro. Durante 30 anos, tentou-se consolidar nosso atribulado e incipiente regime democrático. Ou não foi para isso que derrubamos a ditadura?
Os erros dos governos anteriores ao atual precisavam ser corrigidos (e a operação Lava Jato teve esse propósito), mas a escolha insensata de maus governantes prejudicou o país.
O atual, que veio do “baixo clero” da Câmara dos Deputados, é de formação autoritária (e o mesmo ocorre com a maioria que com ele governa). Quando ele ameaça as instituições chamando as Forças Armadas de “meu Exército”, só confirma o seu desrespeito à democracia. Uma ameaça tola, desnecessária e que, se tentada, jamais teria êxito.
Eu não creio, sinceramente, em qualquer tentativa que ameace a liberdade e as instituições democráticas, mas, como seguro morreu de velho, vale a lembrança da frase que está escrita no título destas linhas.
Ela já foi usada em tempos também difíceis. Com ela, combateu-se com destemor a ditadura de Getúlio Vargas.
Confiemos, então: é na vigilância constante que está a defesa do nosso maior bem: a liberdade.