Tenho dito – a filhos, netos, parentes, amigos etc. – que sou um viciado em Brasil. Sei que são muitos os problemas e, dentre eles, sobressai-se a cruel desigualdade social, na qual sobrevive a maioria do povo. Fato que precisamos superar para que ele se torne uma grande nação. E insisto: mesmo apesar dos pesares, não a substituo por nenhuma outra. Enfim, não abro mão do regime democrático – único regime político capaz de nos levar ao nosso verdadeiro destino.
Sobrevivemos (esperamos todos) à terrível pandemia da Covid e sobreviveremos, com certeza, apesar das mortes e do sofrimento por ela causados, à dengue que aos poucos vai tomando conta do nosso país. Em São Paulo e também em mais sete Estados, incluindo-se Minas Gerais, a doença já atingiu o nível de epidemia e os governos acabaram de decretar emergência. O Estado de São Paulo, por exemplo, já tem registrados mais de 140 mil casos, além de mais de 360 mil notificações de infecção provável neste ano de 2024. Ao todo, 31 pessoas morreram. É preciso que os governos estaduais e as prefeituras municipais alertem o nosso povo através, sobretudo, de campanhas inteligentes sobre a gravidade da doença, que pode levar à morte.
Tão ou mais preocupante é a constatação de que, além do vírus da Covid, que ainda está atuante, o velho vírus do autoritarismo não nos dá sossego e continua se reproduzindo cada vez mais em outros países. Ênfase sobre a Venezuela do ditador Nicolás Maduro que agora, cinicamente, promete eleições para 28 de julho, mas com seus principais opositores impedidos.
No Brasil, às vésperas de comemoramos 60 anos da ditadura militar, que durou 21 anos, o vírus demonstra que está mais vivo do que nunca. Prova disso é a tentativa de golpe ocorrida em 2022, que não se consolidou porque o ex-presidente só conseguiu contaminar alguns dos oficiais das atuais Forças Armadas.
O que se pediu na manifestação da avenida Paulista, no último domingo de fevereiro (25), com a presença de milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi anistia não para os que já foram condenados pelos crimes praticados, mas para ele e para os verdadeiros responsáveis pelo incrível espetáculo de selvageria ocorrido em Brasília, na Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro.
Em depoimento à PF, ocorrido na última sexta-feira (1.3) e que durou 8 horas, o ex-chefe do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, ouvido na condição de testemunha, reforçou a suspeita sobre a participação do ex-presidente na suposta tentativa de golpe de Estado, cuja investigação da Polícia Federal está chegando a seu final.
O depoimento de Freire Gomes foi uma surpresa para os bolsonaristas, que tentaram envolvê-lo na trama na expectativa de que o alvo da operação policial da PF fosse o Exército ou, enfim, as Forças Armadas. Segundo o jurista Walter Maierovitch, o general não responderá pela omissão de não ter denunciado a tentativa de golpe: “A condição de subordinado do presidente descaracteriza o crime. A questão hierárquica se impõe”, afirmou Maierovitch ao “Estadão”.
Que venha logo a fase dos indiciamentos.