Em meio a esse cipoal de acontecimentos ruins no Brasil e no mundo, com duas guerras incompreensíveis e inexplicáveis, sobra-nos o reconhecido talento do cartunista, humorista e músico Chico Caruso. Em sua charge da última segunda-feira, na primeira página do jornal “O Globo”, o presidente Lula, ladeado por Rodrigo Pacheco e por Arthur Lira, faz aos dois uma pergunta que muitos de nós gostaríamos de lhes fazer. Ei-la: “Segunda-feira, vamos brincar de voltar a trabalhar?”.
Seria a sopa no mel se Lula se lembrasse de perguntar a si próprio se já não passou da hora de dizer tanta bobagem acerca de assuntos ligados à complexa política internacional, que só tem dado motivo de críticas ao seu governo. E o mais estranho, como tem sido lembrado por vários analisas de alardeada competência, é que os resultados econômicos não estão ruins. A demonstração disso está no crescimento do PIB, no aumento do rendimento médio dos trabalhadores e na melhoria do PIB per capita, o que não acontecia há muito tempo.
Não há dúvida de que o presidente Lula é o maior culpado pelos resultados das pesquisas recentes tanto do Ipec quanto da Quaest. Entre agosto do ano passado e março deste ano, a aprovação do seu desempenho caiu, enquanto a reprovação cresceu. Suas falas repetitivas e equivocadas em relação às guerras em Israel e na Ucrânia, mas, sobretudo, suas contraditórias posições sobre a vizinha Venezuela e o seu presidente,
Nicolás Maduro, são, sem dúvida, as causas principais dos resultados negativos. Maduro não passa de um déspota, que, por incrível que nos pareça, ainda tem a desfaçatez de marcar eleições para o dia 28/7/24 quando ele próprio sabe que os seus adversários ou estão presos ou estão impedidos por ele de concorrer.
O carinho com que Lula recebe ou cumprimenta Maduro (e haja foto com os dois abraçados!), ou a sua aposta em eleições livres na Venezuela, estão afastando fatias importantes do seu eleitorado. Pois Lula sabe, com absoluta clareza, que o seu terceiro mandato não se deveu nem a ele, nem ao PT, nem à fragilíssima esquerda, que pouco ou nada lhe tem ajudado. Ela se deve a milhões de eleitores que não quiseram votar no ex-presidente por inúmeras razões, sobretudo porque nunca viram nele um democrata, mas alguém capaz de levar o país a um destino incerto e, no mínimo, perigoso. As provas que já se tem contra ele demonstram isso de maneira definitiva.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vinha sendo aceito, para o futuro, como um candidato de centro, com acenos a uma direita democrática, e que procurava afastar-se da ultradireita bolsonarista, animou-se com os resultados negativos do atual ocupante da Presidência da República e, ao que parece, rasgou de vez a fantasia de bom moço e assumiu, em recente discurso, o seu verdadeiro papel ao dizer que não está “nem aí” sobre os desmandos da sua polícia.
E haja polarização nas eleições municipais!
Acílio Lara Resende
Jornalista