Não está fácil, leitor, respirar no Brasil no qual vivemos hoje. Sinto-me, às vezes, como se estivesse sendo asfixiado não apenas por um policial truculento, que, com aquela estúpida bota, assassinou George Floyd. O que me ameaça de asfixia é a pretensão sub-reptícia de implantação de um Estado autoritário entre nós, cuja origem pode estar no subconsciente (ou no consciente?) do presidente Jair Bolsonaro.
O jornalista Fernando Gabeira, em recente entrevista ao “Estadão”, se cansou dos alertas que fez e chutou o balde: “Bolsonaro está querendo armar o povo para uma expressão política. E o homem que quer armar parte da população está preparando uma guerra civil”.
Na semana passada, no dia 3 de junho, salvo engano, o presidente, com enorme receio de que o aumento das manifestações contra o seu governo, mas, sobretudo, em defesa da democracia, possa levar a um movimento pró-impeachment, chamou os manifestantes de “marginais” e “terroristas”.
No dia seguinte, em artigo publicado no “Estadão”, o general Hamilton Mourão, para o espanto de muitos que ainda acreditam na formação democrática do vice-presidente, chamou os participantes desses protestos de “baderneiros”. “Não é admissível – concluiu o general – que, a título de se contrapor a exageros retóricos impensadamente lançados contra as instituições do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, assistamos a ações criminosas serem apoiadas por lideranças políticas e incensadas pela imprensa”.
Para não perder a viagem, o vice-presidente, no fim do artigo, depois de se referir, corretamente, “à catástrofe fiscal herdada de administrações tomadas por ideologia, ineficiência e corrupção”, afirmou, enfim, que “a necessidade de convergência em torno de uma agenda mínima de reformas e respostas é incomensuravelmente maior”
Mas há uma pergunta que não quer calar e que precisa ser feita ao general. O senhor não acha que é preocupante enxergar, nos movimentos em defesa da democracia, só baderneiros, e admitir, como normais, os que pregam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, e que ainda contam com a presença do presidente Bolsonaro? Estes últimos só comentem “exageros retóricos”?
Respeito o senhor e o seu texto, general, que é de primeira. O senhor é um homem culto e sabe bem o que pode acontecer ao nosso país se o presidente tentar botar em prática algumas das suas ideias, já expostas por meio de atos ao longo deste um ano e meio de mandato. Prefiro apoiar o que afirmou o seu companheiro e, sem dúvida, amigo, general Santos Cruz, na entrevista que deu a vários jornais.
Para Santos Cruz, “não há como o Exército tomar uma decisão ilegal”.
Fico por aqui. Com certeza, o senhor leu a entrevista.