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A falta que a ética nos faz

Princípio necessário para o Brasil avançar

Por Adriano Laboissière
Publicado em 13 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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Ao longo dos últimos anos, tenho observado o comportamento das pessoas tanto nas relações pessoais como nas profissionais. Grande parte delas é individualista nas suas ações (o que é diferente de ter a sua individualidade), afetando as tomadas de decisões que visam ao coletivo, e recrudescendo as intolerâncias. De certo modo, parece que o certo é apenas aquilo que cada um defende, não havendo espaço para o diálogo e a busca por posições harmônicas para a prosperidade da coletividade.

Na política, desde a redemocratização do país, prevalecem projetos de poder, e não projetos de governo, contribuindo para a transmutação do espaço social em espaços individuais, nos quais, apesar da convivência coletiva, prevalecem o “eu quero”, “eu posso” e “eu decido”. O individual pode ser entendido também como grupos que unem pessoas com os mesmos objetivos – o que é louvável, principalmente quando a sociedade civil se reúne para negociar questões relevantes para todos, e não apenas para grupos específicos ou indivíduos.

Mas por que isso acontece? Em uma primeira análise, parece-me que, partindo do ponto do individualismo das ações e das decisões, o que está faltando é um comportamento ético na vida social. Para falar da ética, é preciso voltar no tempo até os gregos, berço da filosofia ocidental. Retomando o sentido mais clássico da ética (ethos = morada dos costumes, valores e normas), é possível entender que as nossas ações deveriam visar ao bem comum, já que os costumes – diferentes dos instintos animais – são humanos e formados com base em uma construção histórica da vida das sociedades. Nesse sentido, o costume humano surge da repetição e da aceitação geral daquele ato como condizente com os desejos de determinada comunidade ou sociedade. Daí também o caráter de justiça, respeito e não discriminação da ação ética em relação aos demais, sempre visando ao bem comum da sociedade. E na base da ética está o valor moral que contribui para a boa ou má ação eticamente. Os valores são, fundamentalmente, criados na vida familiar e na educação de qualidade com o crescente aprendizado e aumento de conhecimento das pessoas.

Em certa medida, o momento histórico vivido hoje no Brasil está muito ligado à falta de um tipo conhecimento que leve a sociedade a avanços positivos e coletivos. Acredito que só com conhecimento é possível conquistar valores morais que levem à ação ética, redundando na justiça, no respeito e no bem comum.

A solução é haver condições de educar eticamente as crianças para que elas façam a diferença no futuro, melhorando o convívio social em busca de prosperidade para o coletivo. Nas empresas há o que fazer: treinar as pessoas em temas como ética, cidadania, compliance e afins, para que o agir ético nos negócios seja efetivo. E das empresas as pessoas levarão o conhecimento e a ação para suas vidas pessoais. O Brasil não avançará sem investimentos positivos na educação, e sem ação ética teremos pioras na vida social brasileira em curto prazo.

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