Falar abertamente sobre a própria sexualidade pode parecer algo desnecessário para muitos. Esta é, inclusive, uma opinião comum entre as próprias pessoas que são LGBTI+ (sigla adotada pela ONU para descrever a diversidade existente no grupo, englobando lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/transgêneros, intersexuais e demais). Mas, na verdade, muitas vezes essa postura esconde o medo de que a exposição cause reações preconceituosas que interfiram em suas vidas pessoais e/ou profissionais. Infelizmente, esse medo é fundamentado. Vivemos em um dos países que, vergonhosamente, lideram os casos de violência contra a comunidade LGBTI+.

Mesmo assim, sempre acreditei que deter o lugar de fala, tentando representar um grupo tão diverso por si só e ao mesmo tempo vulnerável, é uma atitude capaz de mudar o mundo, ainda que aos poucos. Hoje, felizmente possuo a coragem para isso e agora consigo “entrar no ringue” em vez de apenas assistir da arquibancada. Nem sempre foi assim. Só há três anos, aos 29 anos, é que consegui sair do último armário que ainda faltava na minha vida: o do ambiente de trabalho.

Toda a minha história profissional aconteceu em uma única empresa. “A gigante de aço”, como é conhecida a ArcelorMittal, é uma indústria de base, com um histórico conservador e predominantemente masculina. Portanto, era inimaginável para mim o lançamento, há exatamente um ano, do Programa de Diversidade & Inclusão, que se tornou um divisor de águas não só para a empresa, como também para a minha carreira. Hoje, estou líder do Grupo de Afinidade LGBTI+, composto por voluntários e aliados, cujo ponto alto é a assinatura de adesão ao Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+.

O que os LGBTI+ buscam, lutam e defendem há anos nada mais é do que direitos iguais àqueles já existentes para pessoas heterossexuais. E somente há alguns anos é que, no Brasil, obtivemos conquistas que já faziam parte do universo heterossexual: em 2005, conquistamos o direito de poder adotar crianças.

Seis anos depois (2011) é que a união civil entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecida pelo STF. O casamento propriamente dito, com as festividades e celebrações da forma que estamos acostumados e valorizamos, só passou a ser reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2013. As pessoas trans só passaram a ter o direito de mudar o seu nome civil e social em 2017, sem a necessidade de cirurgia. Apenas no ano passado é que agressões por LGBTfobia foram equiparadas aos crimes por racismo. E foi apenas em junho deste ano que caiu a restrição que existia no país para a doação de sangue por homens gays, bissexuais, mulheres trans e travestis. Reparem: citei apenas alguns direitos cotidianos que até então não possuíamos simplesmente pelo fato de sermos LGBTI+.

A nossa luta é constante e caminha a passos lentos, mas todos podem ajudar a acelerar as conquistas e vitórias. Basta respeitar as diferenças. Entender que ninguém é igual a ninguém. Você não precisa ser LGBTI+ para lutar contra a LGBTfobia - seja um(a) aliado(a) da causa: alguém que respeita e apoia todas as pessoas, independentemente do seu sexo biológico, identidade de gênero ou orientação sexual. Lutar contra o preconceito enraizado na sociedade é evitar que o discurso de ódio se perpetue por grupos e pessoas menos esclarecidas. Nunca é tarde para rever – e evoluir – posturas e pensamentos.