A vida em sociedade acaba por reservar a certas pessoas importância e reconhecimento além daquele das demais. Elas ultrapassam a barreira do desconhecimento e do anonimato e se tornam ídolos. Uma pessoa que representa algo que pode beirar o sobrenatural. Por isso provocam os mais diversos tipos de emoções e reações.

A vida de uma pessoa que ganha a conotação de ídolo não deve ser nada fácil, principalmente em relação à privacidade. Muitos são os exemplos de pessoas que, ao se tornarem famosas, transformaram suas vidas em um pesadelo; não conseguiram lidar com o ônus de uma vida exposta ao extremo.

Por outro lado, tantas outras utilizam essa mesma fama não só para alcançarem o sucesso material, mas também para abraçarem alguma causa de cunho social. Usam suas imagens para combaterem as mazelas da sociedade na qual se encontram ou até de repercussão mundial, como a fome, a violência, a educação de péssima qualidade e o preconceito.

No Brasil, nossos ídolos não perceberam a importância de suas imagens, ações e palavras. Até quando se omitem, acabam sendo exemplos para milhares de pessoas. A figura se torna referência, um modelo ou até mesmo um estilo de vida.

Basta um corte de cabelo, uma tatuagem, uma expressão, um jargão, um sinal que rapidamente viraliza, tornando-se presente na convivência interpessoal. A ação de um ídolo ultrapassa as barreiras do entendimento, da racionalidade, e vira modismo na maioria dos casos.

A figura que se constrói e ao mesmo tempo se esconde atrás da pessoa que se torna ídolo acaba por se tornar de importância social. A situação vai além de qualquer forma de controle, pois delas pode surgir ou emergir o exemplo que produzem.

Nossa sociedade é repleta de figuras que são identificadas como ídolos. O que gera estranheza é como a maioria delas age, que exemplos propaga. Poderíamos nos perguntar, primeiramente: quem são os principais ídolos da nossa sociedade? E logo em seguida: que qualidades eles propagam? Que exemplos são transmitidos por suas ações?

Parece que podemos dividí-los em dois grupos. Em um, aqueles que se omitem em qualquer ocasião, que chegaram ao auge, mas nunca tiveram a coragem de defender nenhuma bandeira de significância. No outro grupo, estão os que vivem aprontando, utilizando suas imagens para propagar justamente aquilo que mais fere a sociedade : o feminicídio, o abuso contra mulheres, o tráfico, a falsidade ideológica, enfim, situações que mancham o ser humano.

Já cantava Elis Regina: “nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não”. Pelo visto ela tinha razão, basta querer ver. Talvez aí esteja o problema.