O agronegócio, um setor que vem ganhando destaque nos últimos anos, apresentando números invejáveis, como o aumento significativo de sua contribuição para o PIB, recordes sucessivos de safra, incluindo a notável supersafra de 2023, e um crescente volume de exportações, enfrenta agora um cenário de crise silenciosa, que atinge especialmente os produtores rurais familiares, que compõem a espinha dorsal do setor.
Enquanto muito se fala sobre as conquistas, pouco se discute sobre a crise econômica que ameaça a subsistência desses produtores. A crise se manifesta em um endividamento alarmante, comprometendo a viabilidade de operações e projetos no campo. Diversos fatores se alinham para criar essa tempestade perfeita.
Um dos principais pilares dessa crise reside na escassez e no encarecimento dos insumos agrícolas, um componente essencial para o sucesso das atividades rurais. A dependência de matérias-primas importadas de países como China, Rússia e Índia gera uma vulnerabilidade notável. As interrupções nas cadeias de suprimentos, associadas à inflação global e aos conflitos geopolíticos, agravam ainda mais essa situação, elevando os custos de produção.
Os números falam por si: entre janeiro de 2020 e março de 2022, os preços dos principais fertilizantes aumentaram em impressionantes 288%. Os defensivos agrícolas não ficaram atrás, com aumentos de até 77,1%. Tais aumentos elevam os custos de produção, afetando negativamente as margens e a competitividade dos produtores.
Além disso, o setor enfrenta um cenário de crédito mais restrito e oneroso. Em um contexto de incertezas econômicas, o custo do crédito aumenta, dificultando o acesso a recursos essenciais para financiar operações e investimentos. Esse cenário é particularmente crítico para produtores rurais que já enfrentam a pressão do endividamento crescente.
A queda nos preços de commodities agrícolas, como soja, milho e carne bovina, agrava ainda mais a situação. Em apenas seis meses, os valores das safras diminuíram significativamente, afetando a renda dos produtores e agravando suas dificuldades financeiras.
Em meio a esse cenário sombrio, surge a recuperação judicial como uma luz no fim do túnel para muitos produtores rurais. A recuperação judicial é um mecanismo que oferece a oportunidade de renegociar dívidas com os credores, proporcionando um espaço protegido para a reestruturação financeira. Durante esse período, os bens e ativos do produtor ficam protegidos da penhora, permitindo que eles foquem em criar um plano de pagamento sustentável.
Vantagens como o congelamento da dívida, carência, descontos, parcelamentos e tratamentos tributários favoráveis fazem da recuperação judicial uma opção viável para muitos agricultores em dificuldades. Além disso, a orientação profissional especializada auxilia na organização das finanças e na tomada de decisões estratégicas.
Portanto, se você, produtor rural, encontra-se sobrecarregado por dívidas e incertezas, a recuperação judicial pode representar a saída necessária para reverter esse quadro adverso. Consultar profissionais especializados é o primeiro passo para entender suas opções e trilhar o caminho rumo à recuperação financeira. Em tempos desafiadores, é crucial buscar soluções inteligentes e eficazes para garantir a sustentabilidade do agronegócio e preservar o papel vital que desempenha na economia e na sociedade.
(*) Filipe Denki é secretário adjunto da Comissão de Recuperação de Empresas e Falência do Conselho Federal da OAB