Opinião

Algumas lições do momento

Covid-19, sistema de saúde, política e informação

Por Luiz Antonio F. Paulino
Publicado em 26 de maio de 2020 | 03:00
 
 
 
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Ligo o computador e vejo mais uma manchete chocante: são agora mais de 22 mil vidas perdidas, e a epidemia persiste inclemente em algumas cidades, poupando outras, mas aterrorizando todas. O que ela tem demonstrado é a incapacidade de lidarmos com graves crises. Procuramos os culpados, queremos os culpados, mas tragédias globais são complexas.

Em parte, nossos governos carregam alguma culpa. Vimos sofrendo com uma estrutura de saúde capenga, poucos leitos e escassos recursos humanos e materiais. A estrutura do SUS foi muito bem planejada, mas sua implementação não ocorreu adequadamente nos diversos Estados e municípios.

Não resta dúvida que sempre esbarramos na desculpa da falta de recursos, o que não deixa de ser em parte verdade, mas o que fica mais evidente é a falta de prioridade. Administrações que não são profissionais, são apenas instintivas e descompromissadas com o planejamento, acabam por sacrificar os recursos já escassos e comprometer a máquina pública.

Todos repetem o refrão: saúde e educação, mas ficam apenas na retórica. Na verdade, a saúde não tem prioridade assim como a educação. Sem competência na condução a administração pública é um desastre total. A solução é uma reforma política que impeça que pessoas sem qualquer qualificação se elejam. As avaliações da efetividade dos serviços públicos são constrangedoras; os índices de alfabetização e os testes de aprendizado em áreas mostram resultados desapontadores. Ainda se pratica a política do pão e circo, e vai se levando.

A realidade é que, ainda que tudo estivesse muito bom, ninguém está adequadamente preparado para um desastre nas proporções da atual epidemia. Por melhor que seja o serviço de saúde, ele não consegue manter leitos ociosos com infraestrutura para ativação imediata.

Geralmente os hospitais necessitam de taxas de ocupação quase totais para conseguirem sobreviver; ociosidade não remunera, e leitos de maior complexidade, como os das unidades de tratamento intensivo, são muito caros. Poucas são as cidades que contam com serviços de pronto atendimento adequados; pelo fato de terem que manter plantões em que se aguardam vítimas de acidentes – ficam muitas vezes ociosos, e é duro convencer as autoridades que eles têm de ser assim.

A imprensa, quando boa, denuncia, mas a ênfase demasiada em um único assunto pode gerar e alimentar o pânico, o que não é desejável. Informar, surpreender, comentar, advertir, orientar e atualizar são atividades essenciais da mídia, mas a repetição interminável de notícias negativas e tristes pode ter consequências graves. Hoje, com a internet, particularidades são transformadas em generalidades e fica complexa a ponderação dos fatos.

A atual crise é uma oportunidade preciosa para a reflexão e a crítica do papel da imprensa, do que foi produzido, da sua adequação e correção.

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