Artigos

Ameaças a abelhas, aves e morcegos amazônicos

Impacto das mudanças climáticas

Por Tereza Cristina Giannini
Publicado em 25 de março de 2024 | 07:00
 
 
 
normal

O Painel Intergovernamental de Mudança de Clima (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) tem chamado a atenção para o fato de que as mudanças climáticas já estão atingindo amplamente múltiplas esferas, desde as populações humanas e suas atividades (comércio, indústria, produção de alimentos, acesso à água potável, entre outras) até a biodiversidade. E essas mudanças poderão ser ainda mais acentuadas no futuro se nenhuma ação for feita agora. 

A Floresta Nacional de Carajás, no sudeste do Estado do Pará, possui uma área de 800 mil hectares, composta por seis unidades de conservação, equivalente a cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo, é protegida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com apoio da Vale, e está inserida no bioma amazônico. Estudos recentes tiveram como objetivo entender o impacto das mudanças de clima na biodiversidade e nas interações entre espécies de animais e de plantas. Muitas plantas dependem de polinização por animais para sua reprodução, ou seja, para produzir seus frutos e sementes. Da mesma forma, muitas têm seus frutos e sementes dispersados por animais, o que ajuda a manter populações estáveis em regiões diferentes dentro de sua área de distribuição.  

O controle biológico, especialmente de insetos que atuam como praga, também é importante para defender as plantas de seus inimigos naturais, e essa atividade ocorre principalmente por animais que consomem, diariamente, quantidades consideráveis de insetos para se alimentar. Essas três formas de interação citadas são principalmente executadas por três grupos de animais: abelhas, aves e morcegos. 

Ao todo, foram analisadas mais de 900 espécies dos três grupos citados que ocorrem em Carajás. O impacto potencial da mudança climática foi averiguado considerando-se mudanças na adequabilidade de habitat e foram feitas diferentes projeções usando diferentes cenários de emissão de carbono para os anos de 2050 e 2070. Os resultados mostraram que os polinizadores, potencialmente, poderão sofrer os impactos mais acentuados, seguidos dos dispersores de sementes e dos animais que fazem controle biológico. 

Além de os trabalhos terem identificado quais espécies são potencialmente mais vulneráveis, eles indicaram também quais áreas são climaticamente mais estáveis. Os resultados mostraram que áreas a oeste e norte do Estado do Pará poderão ser adequadas para parte das espécies analisadas. Assim, foi desenvolvida uma análise de priorização de áreas para conectar o mosaico de áreas protegidas que engloba Carajás com essas outras áreas climaticamente adequadas no Estado, visando ajudar as espécies a encontrar corredores de áreas preservadas em sua movimentação forçada pelas mudanças climáticas em busca de novos habitats. 

As áreas climaticamente estáveis são importantes para o estabelecimento de estratégias de restauração ou conservação caso estejam desmatadas ou ainda possuam florestas, respectivamente. Sistemas agroflorestais podem ser úteis para essas estratégias, pois aliam conservação com geração de renda para as populações locais, além de ajudarem a reduzir a vulnerabilidade alimentar, uma preocupação também causada pela mudança climática em curso. 

Com sede em Belém, o Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável reúne pesquisadores e tecnologia para o desenvolvimento de pesquisas voltadas para a conservação da Amazônia e da biodiversidade. Com 14 anos de atuação, foram mais de R$ 890 milhões investidos em pesquisas e mais de 800 publicações produzidas. 

(*) Tereza Cristina Giannini é pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!