Opinião

Autoconhecimento como transformação

Reavaliação de conceitos para evoluir

Por Henrique Bibiano
Publicado em 07 de agosto de 2023 | 14:00
 
 
 
normal

“Homem não chora”, “lugar de mulher é na cozinha”, “mulher com mulher vira jacaré”. Esses e outros jargões preconceituosos, repetidos à exaustão nas décadas de 1980 e 1990, fizeram parte da minha criação e da de muitas outras pessoas. Para o nosso bem, termos racistas, misóginos e homofóbicos estão sendo postos à prova e devidamente questionados ao longo dos últimos anos. Os mencionados na primeira linha deste artigo, já entendi, absorvi e superei, e educo meu filho para ser melhor do que fui, para que não cometa os mesmos erros que assolaram a minha e outras gerações.

Parto dessas questões para refletir sobre um jargão que levei mais de 35 anos para superar: “eu não acredito em terapia… isso é coisa de gente fraca”. Hoje, aos 45 anos, me pergunto o que teria evitado de danos emocionais e psicológicos se houvesse feito terapia desde o início da minha vida adulta. Seis anos após ter feito minha primeira sessão, olho para trás e percebo que muitas decisões que tomei teriam sido melhores, mais amadurecidas e que muita energia não teria sido perdida, dissipada, mas sim melhor canalizada. 

O professor José Ignacio Villela Jr., um grande amigo e parceiro, diz que “as pessoas não são resistentes à mudança – elas são resistentes a serem mudadas”. Ele tem razão, pois a mudança sempre acontece de dentro para fora. Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, tem uma frase bem interessante sobre o tema: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Entro na discussão dos dois e proponho algo para refletirmos juntos: Por que, ao acessarmos a nossa própria alma, somos tão duros com nós mesmos? Pergunto por acreditar que talvez esta seja a grande barreira que nos impomos, que nos impede de continuar a jornada pelo autoconhecimento. Inclusive, pode até mesmo nos impedir de iniciar um processo terapêutico. 

Quando analisamos um fato ou uma situação do passado, sob a perspectiva do presente, nos sentimos soberanos e julgamos com rigor as decisões tomadas. Somos muito cruéis com nós mesmos. O que me acalenta é entender que, quando estamos no calor dos fatos, na incerteza de saber quais serão as consequências das decisões tomadas e dos caminhos trilhados, não é possível saber o que vai acontecer. E só me dei conta disso durante o meu processo terapêutico. 

Se você me perguntar se indico terapia, minha resposta será “não”. Não indico, pois esta deve ser uma decisão individual, de dentro para fora. A decisão precisa partir do sujeito, que precisa se desarmar, se permitir conhecer a si mesmo. Por mais que considere o processo terapêutico minha pós-graduação em autoconhecimento... não indico. Mas estou convicto de que todo mundo deveria fazer. 

Henrique Bibiano é especialista em Transformação Enxuta de Processos associado da Amcham

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!