Opinião

BH + deseducada

Retrocesso na educação começou antes da pandemia

Por Gabriel Azevedo
Publicado em 19 de agosto de 2022 | 04:00
 
 
 
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É alarmante a situação da educação em Belo Horizonte. No Brasil, cabe ao município a responsabilidade pela educação infantil e pelas séries iniciais do ensino fundamental. As escolas municipais são avaliadas pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Na nossa capital, o retrocesso começou antes da pandemia, depois de uma década de crescimento em série. A atual gestão da prefeitura assumiu com um resultado de 6,3 no Ideb, o topo da série histórica. Em 2019, caiu para 6. 

A gestão de Angela Dalben, nomeada por Alexandre Kalil e mantida por Fuad Noman na Secretaria Municipal de Educação, protagonizou a primeira queda da série, muito antes de o vírus da Covid-19 provocar uma tragédia que ainda não foi devidamente medida. 

Até agora, o maior impacto da atual gestão na educação foi reduzir o horário de funcionamento das escolas, causando prejuízo à rotina das famílias, além de obstáculo para acesso, principalmente das mães, ao trabalho. Em nome de uma suposta reorganização de turmas – mentirosa, diga-se –, tivemos como resultado os transtornos para levar e buscar filhos. Tudo somado a uma espertalhona série de filmes publicitários milionários na televisão anunciando “mais vagas” a cada leva de matrícula, como se o fluxo normal de andamento de séries, e consequentemente a matrícula de mais alunos com a saída dos que avançaram, significasse um feito. Isso se chama “propaganda enganosa”.

Veio a pandemia, que não é culpa dos gestores, que atuaram tempestivamente para introduzir medidas corretas de isolamento, mas que não souberam fazer nada depois disso. O fechamento pandêmico, aliás, foi a muleta da Secretaria Municipal de Educação. Reconhecendo corretamente que as aulas remotas não eram uma opção, partiram para a conclusão mais estapafúrdia possível: não fazer mais nada. 

Seguiram assim até sobrar dinheiro do Fundeb e, para evitar fazer o rateio com os trabalhadores da educação, depois de mais de um ano de pandemia, finalmente torraram a verba em chips de celular e tablets, pouco antes do retorno presencial. Pouco ou nada se sabe do uso efetivo desses equipamentos, além de terem servido para cumprir o mínimo constitucional de gastos. 

Os índices medem resultados de um serviço. A política indica culpados de uma tragédia. 

Alexandre Kalil abandonou a prefeitura em 25 de março de 2022 numa cerimônia patética em que, para não ser incomodado com os problemas da realidade, assistiu a alguns membros da Guarda Municipal agredirem professores protestando por melhores condições de trabalho na porta da prefeitura enquanto o ex-alcaide exigia sair sem incômodo. 

Saiu prefeito, entrou prefeito, e a incompetente senhora no comando da Educação segue a mesma. Agora, fomos surpreendidos que a incompetência se soma também à corrupção. Além de uma BH + deseducada, pode-se dizer que temos uma BH + corrupta. 

Acompanhando a fiscalização exercida pelos vereadores Wanderley Porto e Wesley da Autoescola, podemos destacar um levantamento que apontou que, em junho deste ano, a Secretaria de Educação firmou convênio para repassar dinheiro a uma ONG do Vale do Jatobá, no Barreiro, que nada mais é do que recriação, com outro CNPJ, de uma entidade que já estava impedida de fazer contratos com o poder público. Os moradores da região onde vivem, aliás, os dois vice-líderes de governo, Wanderley e Wesley, sabem da história e se indignaram. A Controladoria do Município está com o caso. Fiz um discurso firme sobre isso em plenário, e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH (Sind-Rede) se manifestou, defendendo que a Câmara Municipal cobre explicação não só sobre um contrato com OSC, mas sobre todos. Faremos isso solicitando a presença da secretária no Parlamento e provocando o Ministério Público para que esses acordos sejam fiscalizados. Nossa educação sofre com a incompetência. Não pode sofrer também com a bandidagem lambuzada na corrupção. 

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