Opinião

Cooperativismo: um caminho possível

Círculo virtuoso de gestão e investimentos no setor agropecuário

Por Arquimedes Borges
Publicado em 18 de dezembro de 2021 | 03:04
 
 
 
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A vida no campo nos ensina que somos mais produtivos, eficientes e felizes quando nos ajudamos. O cooperativismo, tão potente fora dos grandes centros, é apenas um exemplo disso. Uma forma justa e virtuosa de trabalho, em que todos têm condições e oportunidades de vender seu produto. As decisões são tomadas pelo menor e pelo maior. E a ideia vai além de gerar lucro imediato, ainda que isso aconteça. O modelo se diferencia pela constante adaptação dos processos internos, sendo por isso capaz de crescer e agregar valor à economia. Se dá certo? Os números falam por si.

Ativo em 150 países, o cooperativismo atua gerando novas oportunidades aos cooperados e apoiando o desenvolvimento de suas comunidades. Dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Cooperativismo de 2020 registram cerca de 3 milhões de cooperativas no planeta, reunindo em torno de 1,2 bilhão de cooperados. O World Council of Credit Unions (Woccu) atesta que elas empregam ao redor de 250 milhões de colaboradores.

Mais de 10% das 300 maiores cooperativas do mundo são do ramo agropecuário, atesta o World Cooperative Monitor 2018. O modelo é conhecido por quatro em cada dez brasileiros, sendo mais forte na região Sul, com 67% (para além de 54% no Centro-Oeste e 42% no Sudeste).

Mas, quando observamos como elas operam, identificamos o desequilíbrio nas relações comerciais com o mercado externo: apenas 17% são simultaneamente importadoras e exportadoras, 31% apenas importam, e 52% somente exportam seus produtos, revelam as estatísticas de comércio exterior do Ministério da Economia.

Ponto importante de reflexão: o setor agropecuário lidera o ranking, com 1.223 cooperativas pelo país. Porém, está distante da liderança no número de cooperados, que gira em torno de 992 mil pessoas. Nesse quesito, os setores de consumo (2.025.545) e de crédito (10.786.317) estão bem à frente.

Pensando no fenômeno das cooperativas no Noroeste mineiro, espero que nos mantenhamos como grandes exportadores, especialmente na atividade agrícola. Somos grandes provedores de alimentos in natura e demais produtos do campo em escala mundial. Mas temos o desafio de transformar nossos produtos finais, quebrando o círculo vicioso de exportar barato em forma de produto bruto e comprarmos caro após serem industrializados longe da nossa região.

Importar é necessário. Importamos tecnologia, como máquinas que ajudam a manter a agricultura moderna. Mas podemos ir além, ao adquirir equipamentos e instalar plantas de produção mais sofisticadas, que nos permitam utilizar matérias-primas para produzir bens industrializados de maior valor agregado. Temos avançado bem, mas podemos intensificar a velocidade da modernização.

No Noroeste de Minas, temos municípios reconhecidos em diferentes níveis por sua grande atividade agropecuária. Naturalmente, existem distinções produtivas entre cada uma das cidades de nossa região. Tais variações têm relação direta com as condições de solo, de relevo, de disponibilidade de água para irrigação. Temos cooperativas com maiores ou menores limitações, algumas bastante voltadas ao auxílio aos cooperados na venda direta de bens in natura.

No entanto, isso não é suficiente e precisamos nos inspirar no exemplo das grandes cooperativas locais para, a partir delas, promovermos um círculo virtuoso de investimentos e de gestão capaz de levar a produção agropecuária a outro patamar, transformando a região em um cinturão de produção tecnologicamente capaz de atender clientes estrangeiros e nacionais.

Temos aqui exemplos muito bem-sucedidos de cooperativas com forte vocação modernizadora. Eu mesmo presidi uma delas por mais de dez anos numa época crucial para a transformação positiva de nossas operações cooperadas. Hoje, atuamos com eficiência no crédito, na agricultura e no setor leiteiro. Mas nos faltam meios para fortalecer ainda mais o setor.

Por isso, nos próximos anos, precisaremos desenvolver uma estratégia integrada de desenvolvimento regional que utilize nossa estrutura produtiva cooperada como motor de desenvolvimento, de emprego e de renda que transborde prosperidade para todo o Noroeste.

Assim, precisaremos de forte união entre setores produtivos privados e governos locais, apoiados por lideranças regionais experientes e capazes de entender as potencialidades econômicas da região.

A sensibilização em prol do desenvolvimento também deve integrar um movimento local para fortalecer nossa terra. E os princípios e exemplos do cooperativismo podem ser um guia nesse caminho.

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