Embora a economia-política mostre a forte correlação entre o aumento da circulação de bens, serviços e pessoas e a melhora dos índices econômicos-sociais de um país, esse preceito vem escapando à atenção das lideranças. Vivemos uma das maiores crises sanitárias e nenhuma medida foi adotada para salvaguardar e fomentar o transporte público do Brasil.
Pesquisa da revista Scientific American mostra que quanto maior é o grau de desenvolvimento de um país, maior tende a ser a circulação que nele se pratica. A mobilidade está associada ao menos a cinco fatores: direito de ir e vir; indução de crescimento; integração do território; insumo à produção econômica; e intermediadora de atividades e serviços. Não bastariam esses atributos para qualificar o transporte como fator fundamental para o desenvolvimento de uma nação?
Estudo baseado em dados do Google e Apple, feito pelo Nobel de Economia M. Spence e pela Luohan Academy, da Alibaba, mostrou que a queda do PIB, durante a pandemia, teve como motivo – em 70% do total – a redução de circulação de pessoas, cargas e serviços. O estudo revela a relação estreita entre a mobilidade e o PIB, reforçando uma verdade que só não tem sido evidente para os formuladores de políticas.
Como poderia o transporte de passageiros sobre trilhos e toda a indústria a ele associada, contribuir para superar a crise e prevenir outras que virão?
Se a queda do PIB brasileiro no biênio 2020/21 e a sua estagnação prevista para 2022 são preocupantes para mitigarmos as perdas e sair da crise, cabe-nos identificar as razões que as causaram. E 70% delas foram atribuídas à queda da circulação.
Todos os países que conseguiram alçar posições com o exercício pleno dos direitos humanos, sociais e ambientais o fizeram investindo em infraestrutura, incluindo mobilidade. Desde o início da pandemia, diversas nações adotaram medidas específicas ao transporte público, visando salvaguardar e fomentar esse setor, o que não foi o caso do governo brasileiro. Não há dúvida que os programas de governo precisam de proposições sobre a mobilidade urbana, que tem sido historicamente negligenciada nas campanhas eleitorais.
A retomada do desenvolvimento passa pelos deslocamentos dos cidadãos. Políticas voltadas para o transporte sobre trilhos atendem não só as áreas econômicas e sociais, como estão alinhadas à preservação ambiental, à inovação tecnológica e à saúde pública.
A ANPTrilhos, representante do setor de transporte de passageiros sobre trilhos no Brasil, pode contribuir com as forças nacionais em prol da melhoria da mobilidade, e convida os governantes e formuladores de programas de governo para considerarem a importância dos trilhos para o desenvolvimento do país.
O transporte público e coletivo beneficia a todos e não somente aos que dele se utilizam. Toda a sociedade usufrui e dele depende. E muito!
* Roberta Marchesi é diretora executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), e Laurindo Junqueira é Consultor em Logística de Transporte Urbano