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Metrô é investimento de longo prazo

Capacidade de transporte e retornos para a sociedade

Por Joubert Flores e Roberta Marchesi
Publicado em 20 de novembro de 2023 | 07:00
 
 
 
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Você já deve ter escutado que o custo para construir uma linha de metrô é alto e o prazo de implantação longo, mas não é bem assim. Essa é uma das críticas feitas a projetos para novas linhas e, também, que demoram mais tempo a serem abertas do que projetos de BRT (Bus Rapid Transit), que se instalam em faixas de avenidas existentes ou construídas para esse fim. Essa comparação peca ao não apreciar as vantagens comparativas de cada modo, a capacidade de transporte e qualidade de serviço.

A alta capacidade de transporte dos sistemas sobre trilhos permite perceber os benefícios dessa modalidade. Uma única linha de metrô é capaz de transportar cerca de 60 mil passageiros/hora/sentido. O automóvel e o ônibus têm capacidade de apenas 1,8 mil e 6,7 mil passageiros/hora/sentido, respectivamente, por faixa de circulação. BRTs transportam até 15 mil passageiros/hora por sentido por faixa, necessitando até 4 faixas de avenidas para poder transportar 30 mil passageiros/hora/sentido. Ambos os modos de transporte são eficientes, dependendo da demanda de passageiros onde são instalados.

Características dos transportes sobre trilhos

Uma linha de metrô usa métodos de sinalização automática e oferece serviços com intervalos baixos, como 75 segundos; o BRT já tem mais dificuldade em operar nos períodos de alta demanda, como se pode ver pelos pioneiros exemplos do Transmilénio (Bogotá) e Metropolitano (Lima). Por serem muito frequentes, têm de reduzir a velocidade, oferecendo um nível de qualidade de serviço que se deteriora durante os horários de maior demanda. E é a partir desse ponto que as médias e grandes cidades e regiões metropolitanas precisam buscar soluções com maior capacidade.

Essas soluções são voltadas para o transporte sobre trilhos – metrô, trem e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos). Tanto São Paulo, Bogotá (Colômbia), Lima (Peru) e outras regiões metropolitanas que têm excelentes BRTs buscam construir ou já construíram linhas de metrô. Não deve haver disputa entre os sistemas, mas complementariedade entre eles, dependendo da demanda de passageiros, que deve definir o modo adequado a ser implantado.

Cidades de porte médio ou corredores com demanda inferior a 12 mil passageiros/hora/sentido e com baixa expectativa de aumento no longo prazo poderão ser candidatas a implantar sistemas de BRT ou VLTs, solução adotada na Europa e agora também no Rio de Janeiro (RJ) e na Baixada Santista (SP).

Planejamento, investimento e gestão no transporte

A construção de sistemas metroferroviários envolve equipamentos modernos, mão de obra especializada e complexas interfaces com a infraestrutura das cidades, como zoneamento, redes de água, esgoto, energia e telecomunicações. Requer planejamento, investimentos e gestão de execução. Tem também as desapropriações de terrenos e contínuo contato com as comunidades para minimizar impactos durante a construção.

Dada a vida útil da infraestrutura, que excede em geral 50 anos, os custos são, à primeira vista, mais altos que os de um BRT. Entretanto, há que se considerar que a infraestrutura das estações dos sistemas de trilhos é robusta e as vias e ativos são de longa durabilidade. Enquanto sistemas como BRT exigem maior custo com vias, manutenção, recuperação de paradas e troca de ativos, que tem vida útil muito menor.

Se superarmos a discussão superficial sobre essa comparação, que envolve apenas o investimento inicial, e tratarmos o tema de forma adequada, considerando o ciclo de vida dos ativos ou o investimento por passageiro transportado, veremos que a viabilidade dos trilhos supera a implantação de qualquer outro sistema para corredores de alta demanda.

Maior mobilidade, maior desenvolvimento

Linhas de metrô, trem e VLT trazem grande retorno para sociedade além do transporte, por meio de um transporte rápido, seguro e regular, sem congestionamentos e sem emissões de poluentes, movido à energia limpa e contribui com a sustentabilidade das cidades.

E quanto maior o índice de mobilidade, maior o desenvolvimento social e econômico. É importante que os gestores públicos considerem que o aumento da mobilidade tem de estar atrelado aos limites de sustentabilidade impostos pelo ambiente, pelo uso de energia, de espaço e dos demais recursos escassos para o Planeta.

Ressaltamos que os benefícios da mobilidade sobre trilhos são conhecidos, mas, sem planejamento, as cidades ficam reféns de soluções de curto prazo e não resolvem o problema da mobilidade. É preciso superar velhas práticas, para avançar com a implantação de sistemas de transporte público adequados à realidade das cidades. E isso envolve todos os sistemas, sejam BRTs ou Trilhos!

 (*) Joubert Flores é presidente do Conselho da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos e (**) Roberta Marchesi é diretora Executiva da ANPTrilhos

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