Opinião

‘Nova Guerra Fria’: a batalha de Taiwan (segundo ato)

Assistimos a uma nova divisão entre nações liberais e não liberais

Por Igor Macedo de Lucena
Publicado em 19 de agosto de 2022 | 03:00
 
 
 
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Igor Macedo de Lucena é economista e empresário, doutorando em relações internacionais na Universidade de Lisboa

A invasão da Ucrânia em 2022 gerou uma nova etapa nas relações entre países. A “Realpolitik” nas relações internacionais se tornou o imperativo, e passamos a assistir, a cada dia, a uma nova divisão no planeta entre nações liberais e nações não liberais.

Sanções econômicas, bloqueios comerciais, fechamento de empresas, expropriação de ativos, aumentos de despesas militares e alianças intercontinentais começaram a tomar conta dos jornais e a ser notícia diariamente. 

Em agosto, a visita de Nancy Pelosi, atual presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, à ilha de Taiwan causou um enorme tumulto nas relações entre os Estados Unidos da América e a China. Contudo, o que de fato isso representa? Os americanos afrontaram os chineses em seus problemas internos ou os chineses utilizaram a referida visita como pretexto para avançar sobre a soberania da ilha de Taiwan? Independentemente de qual seja o motivo, está claro que o debate sobre a soberania de Taiwan é, hoje, um claro segundo ato de uma inevitável “nova Guerra Fria”. 

É importante nos lembrarmos de que a República da China (Taiwan) é vista pela República Popular da China (China continental) como uma província rebelde, onde não há soberania própria, de modo que toda e qualquer ajuda à independência da ilha significa na verdade uma interferência nos assuntos internos da China e, por consequência, uma intromissão na soberania chinesa. 

A diferença nesse “segundo ato” é que Taiwan não é a Ucrânia. Estamos falando da nação com a maior capacidade tecnológica de produção de chips e semicondutores, com capacidade de produção que impacta aviões, automóveis, televisões, computadores e, principalmente, equipamentos de alta tecnologia. Além disso, ano após ano os Estados Unidos vêm vendendo armamentos para Taiwan, e seus gastos militares chegam a superar os 3% do PIB, superior ao de muitos países europeus.

E para o Brasil? Como isso nos impacta? Na prática, o Brasil aparenta ser uma espécie de Hedge dentro dos países do G20. Nessa “nova Guerra Fria” que já experimentamos, dentro de um cenário inflacionário adverso e passando por forte polarização em momento eleitoral, as expectativas de crescimento do PIB brasileiro já chegam perto de 2% para 2022, nossa razão dívida/PIB vem caindo a cada trimestre, mesmo que o risco país continue em alta, o que é incoerente. 

Apesar de não existir a certeza de que a melhora desses fatores econômicos se manterá em 2023, o fato é que neste ano, com importantes problemas geopolíticos, o Brasil de fato tem se mostrado resiliente em sua recuperação econômica e pode surpreender se continuarmos a aprofundar nossas reformas, privatizações e nossos projetos prioritários em infraestrutura nos próximos anos. Agora, do ponto de vista geopolítico, como o Brasil deve se situar em relação a Taiwan? Acreditamos que, tal como na Ucrânia, o Brasil deve se posicionar conforme seus interesses nacionais, levando em consideração que tanto a China quanto os Estados Unidos e Taiwan são importantes para o desenvolvimento econômico do nosso país, mas, mesmo sem poder-se alterar fundamentalmente a situação geopolítica mundial, a manutenção do status quo é benéfica. 

Nesse importante jogo geopolítico, o Brasil deve se posicionar sempre ao lado da democracia e da autodeterminação dos povos, e sempre contra incursões militares, mas também precisa jogar pragmaticamente, observando e priorizando com altivez os interesses dos brasileiros. 

 

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