Artigos

O caos do saneamento no nordeste de Minas Gerais

Disparidades no atendimento e apelo por melhorias consistentes

Por Luciana Machado Teixeira Fabel
Publicado em 18 de fevereiro de 2024 | 08:00
 
 
 
normal

A promulgação do Novo Marco Regulatório do Saneamento Básico, Lei 14.026/2020, delineado para instaurar uma transformação substancial nas diretrizes nacionais, visando assegurar o acesso à água potável e o adequado tratamento de esgoto à população, parece distante frente à intrincada realidade que permeia o nordeste mineiro.

Com uma expressiva predominância de áreas rurais, atingindo a marca de 75%, a região enfrenta um desequilíbrio notável entre a oferta e a demanda de serviços básicos de água e esgoto. Análises técnicas recentes, conduzidas pelo Centro de Liderança Pública (CLP), revelam uma dinâmica alarmante na região.

A disparidade na quantidade de água tratada por 100 mil habitantes entre o nordeste mineiro e outros municípios do Estado denota um fosso significativo. Enquanto a média estadual estabiliza-se em torno de 66,2 m³ em 2022, a região nordestina oscila em meros 40 m³, sinalizando a vulnerabilidade no acesso à água.

As paralisações no fornecimento de água evidenciam ainda mais essa fragilidade. Com 6,1 interrupções por mil habitantes em 2022, comparadas às 3 interrupções por mil habitantes nos demais municípios de Minas Gerais, a região enfrenta uma incidência significativa de intercorrências no serviço, demandando monitoramento e gestão ativa de forma imediata.

Já a lacuna no sistema de distribuição, com um desperdício de mais de 50% da água em municípios como José Gonçalves de Minas, Nova Belém e Itaipé, se apresenta como uma ferida aberta, clamando por intervenções imediatas na ineficiência do sistema de distribuição na região.

Quanto ao tratamento de esgoto, a disparidade persiste. Enquanto outros municípios avançam, a região permanece estagnada em torno de 50%, evidenciando desafios na infraestrutura. A heterogeneidade na cobertura de tratamento de esgoto, variando de mais de 70% a menos de 30% entre os municípios da região, reflete a complexidade da situação. Apesar de algumas melhorias ao longo dos anos, a conformidade com o Plano de Saneamento Básico permanece preocupantemente baixa no local.

E é importante destacar que a região precisa de uma agenda eficaz e resolutiva, por meio de um compromisso robusto das partes envolvidas, investindo estrategicamente em saneamento básico na região. Somente por meio de um esforço coordenado e investimentos substanciais, aliados a uma abordagem flexível e adaptativa, poderemos vislumbrar a transformação do caos atual em um futuro mais promissor para o nordeste mineiro.

Este é mais do que um apelo por melhorias no saneamento; é um chamado à construção de uma base robusta e sustentável, visando não apenas à equidade e à eficiência, mas também ao atendimento preciso das diversas necessidades de uma região economicamente multifacetada, que desempenha um papel crucial no contexto de Minas Gerais.

Enquanto o Novo Marco Regulatório do Saneamento Básico permanecer apenas no papel, sua concretização continuará sendo uma realidade distópica para os cidadãos do nordeste mineiro. Não podemos mais postergar a ação necessária; o momento é agora!

(*) Luciana Machado Teixeira Fabel é doutora em direito ambiental e desenvolvimento sustentável

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!