Opinião

O que precisamos saber sobre a monkeypox?

Comportamento da varíola dos macacos, sintomas e prevenção

Por Silvia Pietra
Publicado em 24 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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A monkeypox é uma zoonose viral descoberta em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidos para pesquisa. Por isso, foi denominada de “monkeypox” (termo em inglês para “varíola dos macacos”). O primeiro caso em humanos foi identificado em 1970, na República Democrática do Congo, e desde então a doença foi relatada em outros países da África Central e Ocidental.

A partir de meados de maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu diversas notificações de casos confirmados da doença em países que não tinham relato da circulação do vírus. Além de serem regiões fora da endemia da zoonose em questão, todos os casos não reportaram história de viagem e aparentemente não apresentaram ligação entre si. Tal disseminação é alarmante e de preocupação para a saúde pública, bem como de toda a população, que já convive com a longa pandemia do novo coronavírus.

Nesse contexto, surgem diversos questionamentos: Como anda a situação do Brasil? Quais são os sintomas? Qual a forma de transmissão? Há tratamento para a doença? Há vacina para a doença?

Em relação ao Brasil, até o dia 22 de junho, havia 11 casos confirmados pelo Ministério da Saúde (sete em São Paulo, dois no Rio de Janeiro e dois no Rio Grande do Sul) e registros suspeitos em Ceará, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Acre e Rio Grande do Sul. Vale lembrar, e a fim de evitar que haja um estigma contra os primatas não humanos, que, embora a doença tenha se originado em animais desse gênero, o atual surto não tem relação com eles, sendo totalmente indevido qualquer tipo de maus-tratos a esses animais.

A monkeypox apresenta um período de incubação tipicamente de três a 16 dias, e, após a infecção, a pessoa comumente começa a ter sintomas como febre, dor muscular, fadiga, dor de cabeça, fraqueza, dor nas costas e inflamação dos linfonodos. O indivíduo ainda pode apresentar lesões na pele que se iniciam no local da infecção primária e que se espalham rapidamente para outras partes do corpo. 

As lesões progridem, no geral, dentro de 12 dias, do estágio de máculas para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. É transmitida principalmente por contato direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões de pele ou membranas mucosas de animais ou seres humanos infectados. Acredita-se que a via mais relevante na cadeia de transmissão da doença seja entre parceiros sexuais, uma vez que o risco é maior devido ao contato íntimo com lesões cutâneas durante a atividade sexual.

Com relação ao tratamento, não existe especificidade terapêutica para a infecção pelo vírus da monkeypox. Os sintomas geralmente desaparecem naturalmente. É importante cuidar da lesão, deixando-a secar ou cobrindo-a com um curativo úmido para proteger a área afetada. Deve-se evitar tocar em feridas e na boca ou nos olhos.

As medidas de prevenção são semelhantes às já utilizadas para a contenção da pandemia do novo coronavírus, como manutenção dos indivíduos infectados em isolamento, utilização de máscaras cirúrgicas e manutenção das lesões cobertas. Apesar de não haver terapia específica, existem algumas drogas que tiveram efeito benéfico em modelos animais, como cidofovir, brincidofir, tecovirimat e imunoglobulinas contra varíola.

Com relação à vacinação, a vacina contra a varíola demonstrou ajudar a prevenir ou atenuar a doença e proteger contra a monkeypox, com uma eficácia de 85%. No entanto, com a erradicação da doença em 1980, a vacina não está disponível para a população em geral, e, como os casos de monkeypox são raros, a vacinação universal não é indicada. Atualmente, as pessoas que devem tomar a vacina, em casos sem surto, são profissionais laboratoriais que trabalham com varíola ou outro vírus similar e, em casos de surto, pessoas que apresentam grandes probabilidades de contato direto com o vírus. 

Existem duas plataformas vacinais para monkeypox desenvolvidas: ACAM2000, vacina com vírus vivo, e a Jynneos, que, por sua vez, é aprovada nos Estados Unidos e em alguns países da Europa a fim de prevenir a infecção em pessoas com idade superior a 18 anos.

Silvia Pietra é analista sênior em diagnóstico molecular de doenças infecciosas na Target Medicina de Precisão

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