Foi na década de 1990 que o Outubro Rosa ganhou visibilidade, com o início da campanha pela Fundação Susan G. Komen, nos Estados Unidos. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) abraçou o movimento em 2010, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença. De lá para cá, anualmente neste mês, sociedades especializadas e o sistema de saúde em geral se mobilizam para alertar as mulheres sobre a importância da prevenção ao câncer das mamas – ele ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil.
Na atualidade, um dos maiores desafios do nosso país continental, com características regionais tão distintas, ainda é proporcionar cada vez mais o maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento para as mulheres, de forma a reduzirmos as taxas de mortalidade.
No ano passado, um estudo apresentado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) mostrou que a desigualdade na distribuição de equipamentos de mamografia e até no número de radiologistas é uma pedra neste caminho de ampliar, cada vez mais, o acesso à saúde para se prevenir a doença. No Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, a oferta média nacional de mamógrafos é de 1,3 aparelho por 100 mil habitantes, segundo o CBR. Os mamógrafos disponíveis para atendimento na rede nacional do SUS somam 2.102, diz o estudo. Desse total, cerca de 40% estão no Sudeste, sendo a pior cobertura a da Região Norte, com 145 aparelhos; e o estado do Amapá, com apenas dois mamógrafos no SUS.
Dar acesso às mulheres a consultas presenciais e diagnósticas, com um (a) médico (a) que tenha o olhar preventivo e de saúde integral, é fundamental para uma qualidade de vida digna e saudável. No atendimento clínico, temos percebido que muitas mulheres, mesmo com acesso a informação de qualidade e grande parte delas com planos de saúde privados, têm deixado de lado as consultas preventivas anuais ou bianuais, dependendo da idade e indicação de exames. Pela correria do dia a dia, por esquecimento, excesso de trabalho e afazeres domésticos.
Em 2020, mais de 2,3 milhões de mulheres no mundo descobriram que estavam com câncer de mama. Esse tipo de tumor é o que mais acomete a população feminina brasileira e representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas. Também é o câncer que mais mata. Os técnicos do Inca, com base em dados e números do SUS, fizeram um recorte interessante sobre a incidência da doença nas brasileiras: no Brasil, em 2020, cerca de oito mil casos de câncer de mama tiveram relação direta com fatores comportamentais, como consumo de bebidas alcoólicas, excesso de peso, não ter amamentado e inatividade física. O número representa 13,1% dos 64 mil casos novos de câncer de mama em mulheres com 30 anos e mais, em todo o País, de acordo com dados do Inca.
Nós, que trabalhamos com a saúde da mulher, principalmente, com a questão da fertilidade e o sonho da gravidez para aquelas que apresentam algum tipo de dificuldade em gestar, estamos sempre ocupados em olhar para a paciente na sua integralidade. O câncer não torna uma paciente estéril, a menos que tenha comprometido severamente os órgãos reprodutores. Entretanto, tratamentos como a quimioterapia, radioterapia e alguns tipos de cirurgia podem levar à infertilidade, pois parte deles têm efeitos sistêmicos, afetando o corpo inteiro. No entanto, a medicina reprodutiva possibilita a pacientes que sonham em engravidar, mas descobrem um câncer na mama ou em outra parte do organismo, alternativas, como o congelamento de óvulos (criopreservação) ou de embriões. Mas cada caso é individual e deve ser analisado como tal.
Bater na tecla da importância da prevenção, realizando exames rotineiros anuais para se verificar como anda a saúde feminina, pode soar repetitiva, mas ela é fundamental para quem busca vida plena. Pois toda doença detectada no início apresenta muito mais chances de cura e de tratamentos menos invasivos. Mulher, olhe para si com amor e afeto, e se permita viver em abundância de saúde.