Opinião

Pobreza: principal fator de risco para Covid-19

Maiores taxas de contágio estão nas áreas de baixa renda

Por Francisco Fernandes Ladeira
Publicado em 09 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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No início do ano passado, quando foram diagnosticados os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, os meios de comunicação noticiavam que, para evitar a expansão do novo coronavírus (patógeno causador da doença) era necessário que as pessoas permanecessem em casa, mantivessem isolamento social e higienizassem constantemente as mãos com água e sabão ou álcool em gel.

Também lemos nos veículos de imprensa que todos nós, sem exceção, estamos vulneráveis ao novo coronavírus, porém o chamado “grupo de risco” – idosos e pessoas com comorbidades (basicamente problemas cardíacos e respiratórios) – são mais propensos a desenvolver os quadros mais graves de Covid-19. Assim, criou-se para muitos a falaciosa narrativa de que bastava isolar idosos e pessoas com comorbidades e a vida poderia seguir normalmente.

Como vimos, infelizmente, a realidade é bastante diferente. Os dois primeiros casos identificados de contaminação e morte por Covid-19 no Brasil – respectivamente um homem que viajou à Itália e uma trabalhadora doméstica que contraiu o vírus de sua patroa – já deram a tônica do que seria a pandemia em nosso país: uma doença trazida pelos ricos, mas que acometeu com mais intensidade os pobres. Desse modo, em mais uma oportunidade, as faces mais perversas de nossa desigualdade social vieram à tona.

Conforme demonstrou um estudo feito pelo professor da Unicamp Marcos César Ferreira, a partir da análise espacial do município de São Paulo, as maiores taxas de contaminados pelo novo coronavírus coincidem com as áreas mais pobres. Em contrapartida, bairros centrais ou ligados a atividades comerciais e financeiras apresentam menores índices de casos. Mesmo se formos comparar somente o grupo de risco das áreas nobres com as populações periféricas, independentemente da faixa etária, ainda assim a quantidade de óbitos por Covid-19 é maior entre os pobres.

Essa parcela da população não interrompeu suas atividades profissionais durante a pandemia (afinal de contas, sua mão de obra é “essencial” para manter aquecido o sistema econômico vigente). A rotina de utilizar transporte público, geralmente superlotado, expõe diariamente o trabalhador ao novo coronavírus, uma espécie de roleta-russa pandêmica. Não obstante, é impossível falar em isolamento social para pessoas que, devido às circunstâncias adversas, já vivem aglomeradas em suas próprias casas.

Dizem que o novo coronavírus é “democrático”, pois não escolhe seus hospedeiros. No entanto, parafraseando George Orwell, em tempos de pandemia, os brasileiros são todos iguais, mas alguns podem “se isolar” mais que os outros. Não precisa ser cientista para concluir que, no Brasil, o principal fator de risco para Covid-19 não é ter mais de 60 anos ou comorbidades, o problema é ser pobre.

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