Apesar de estarmos cientes dos cuidados que devem ser tomados durante a pandemia de uma doença de alto contágio e que, com as ferramentas corretas e bons professores, é possível, sim, ter uma educação remota de qualidade, é preciso levar em consideração alguns fatores que demonstram que a volta às aulas já deveria ter sido autorizada pelo governo.

Enquanto no mundo todo as escolas raramente ficaram fechadas por mais de três meses, em Belo Horizonte já estamos há praticamente seis meses sem aulas. E, na grande maioria dos países, ao contrário do que se diz, não houve aumento de casos porque as escolas reabriram. Mas a demagogia dos governantes, somada às absurdas reivindicações dos sindicatos, traçam para a opinião pública um cenário apocalíptico e escancara o privilégio dentro do serviço público, onde alguns servidores que se acham “mais iguais que os outros” recebem salário enquanto aqueles que os pagam devem continuar trabalhando, muitas vezes expostos a riscos muito maiores que os de uma escola.

Sempre é bom ressaltar que as crianças representam 24% da população mundial, mas apenas 2% da população que teve Covid-19. Outro dado importante é que mais de 90% das crianças que contraíram a doença eram assintomáticas ou pouco sintomáticas. No Reino Unido, onde já foi liberada a abertura de escolas, houve resistência, para variar, dos sindicatos, que alegaram dificuldade de distanciamento social na escola. No entanto, estudo da University College London mostra números extremamente baixos de contaminações de professores e funcionários de escolas.

Saindo da esfera da saúde para a social, há problemas que não podem ser ignorados, especialmente porque a pandemia prejudica as famílias menos abastadas, nas quais pais e mães precisam sair para trabalhar e garantir a alimentação das crianças. Estudos mostram que os pais que deixam de trabalhar para cuidar dos filhos em idade escolar por causa da pandemia já tiveram sua renda média reduzida em 18%. E isso prejudica especialmente as mães, pois, segundo a ONU Mulheres, elas são 2,4 vezes mais prejudicadas que os homens, porque muitas delas foram jogadas na informalidade e no desemprego. Se ignorarmos todos esses dados, corremos o risco de ver a pandemia ser menos prejudicial que a fome e a miséria.

Temos também o pior dos problemas no longo prazo: o bem-estar psicológico e o desenvolvimento intelectual das crianças, especialmente as mais vulneráveis, que têm menos ferramentas e condição material de buscar um estudo de qualidade em casa. O governo não pode ignorar essas crianças e satisfazer a vontade de lobistas que recebem sem trabalhar.

É, por tudo isso, que parabenizo pais e mães do movimento Pais pela Educação BH que estão lutando para o retorno das aulas, em que governo municipal deixou as crianças por muito tempo sem sequer um planejamento de ensino remoto. Protocolei, no dia 17.9, uma solicitação de audiência pública na Assembleia Legislativa para reivindicar o retorno às aulas presenciais. É hora de lutarmos contra decisões irresponsáveis do governo e enfrentar este momento difícil de maneira assertiva e corajosa!